O ano de 2023 marcou a volta de um símbolo da saúde pública brasileira que marcou presença na vida de milhões de pessoas e tem um lugar guardado no imaginário social do brasileiro: o Zé Gotinha. Símbolo das campanhas nacionais de vacinação, que ficaram abandonadas nos últimos quatro anos pelo governo federal, ele retornou neste ano em meio aos esforços da atual gestão para melhorar os indicadores de vacinação do país. Agora, uma pesquisa inédita da Pfizer com o Instituto Locomotiva joga luz sobre o tamanho do desafio e sobre como é necessário olharmos para as mães, sobretudo as pretas e pobres. São elas que ainda ficam responsáveis por acompanhar os cuidados de saúde dos filhos e filhas e que, na maioria das vezes, levam as crianças para se vacinar.
E os dados são alarmantes. De acordo com a pesquisa, ao menos seis em cada dez mães atrasaram ou perderam a vacinação dos filhos. Os motivos para esses atrasos passam pela desinformação em relação ao calendário vacinal (citada por 45% das entrevistadas) e por fatores relacionados ao acesso, como a dificuldade para chegar aos locais de vacinação (39%) ou a percepção de que os horários de funcionamento dos órgãos de saúde seriam restritos (39%). A pesquisa ainda identificou que 17% das mães simplesmente não confiam nas vacinas.
Em outras palavras, o peso da profusão de fake news sobre vacinação é considerável e mesmo as campanhas para estimular a vacinação ainda não são suficientes para esclarecer as mães sobre o calendário. Some-se a isso os recortes de classe, raça e região e o desafio fica ainda maior: Se na amostra geral 36% das entrevistadas afirmam receber algum tipo de acompanhamento ou ajuda para lembrar das datas de vacinação das crianças, esse porcentual sobe para 51% entre aquelas das classes A/B, mas cai para 25% entre as participantes da região Norte, por exemplo.
Em outra frente, enquanto 35% das participantes da pesquisa indicam que já atrasaram a vacinação dos filhos ou deixaram de imunizá-los por residirem longe do local de vacinação, essa taxa sobe para 41% entre aquelas das classes D/E, chegando a 51% na região Norte.
Mas nem tudo são desafios. A pesquisa também aponta um norte importante e que merece a atenção dos gestores públicos: nove em cada dez mães consideram que a escola poderia facilitar a vacinação de suas crianças. Para as mães, as escolas poderiam tanto ajudar a lembrar do calendário de vacinação como servir de local para a própria vacinação dos filhos. 91% das mães entrevistadas afirmam que autorizariam os filhos a serem vacinados na escola de fosse possível, sendo que 73% autorizariam independentemente da vacina.
Quando se olha para o tamanho da rede de educação básica do país, o potencial de melhorar o alcance da vacinação é considerável. Estamos falando de 180,6 mil escolas em todo o país que, ao menos em tese, poderiam servir de espaço de vacinação. O número é mais que o triplo das 42 mil unidades básicas de saúde espalhadas pelo Brasil. Enfrentar os desafios que assolam as mães na hora de cuidar da saúde das crianças deve ser um dever de todos, a começar pelos pais, que precisam também participar mais desses cuidados.
Que as empresas também saibam olhar com atenção para o tema, como a Pfizer fez ao buscar entender o cenário, e garantir que as mães tenham tempo para cuidar da vacinação dos filhos. E que o poder público compreenda a importância de chegar a essas mães de forma confiável. Afinal de contas, o Zé Gotinha também precisa de aliados, e este autor torce para que as escolas entrem com tudo nessa aliança. O país só tem a ganhar.