Computação quântica: o que é isso e por que você deve se importar
A revolução digital mais surpreendente é sempre a próxima — então descubra aqui como esta pode afetar sua segurança

Você precisa saber da piscina, da gasolina, da margarina, da computação quântica. Talvez a música Baby, escrita por Caetano Veloso e imortalizada na voz de Gal Costa, ganhasse essa atualização high tech se fosse composta nos dias de hoje. Se bem que nem rima, né? Bom, mas escolhi começar o texto desse modo porque, sim, você precisa saber da computação quântica.
Confesso que eu também não dava muita bola, embora houvesse lido algumas coisas a respeito, então estamos no mesmo barco. Mas vim para um evento de tecnologia em Boston, o Red Hat Summit 2025, onde ouvi mais sobre o tema, e assim nasceu o texto de hoje.
O que é computação quântica?
Creio que o melhor modo de responder isso seja recorrendo à famosa analogia da moeda. Não larga minha mão enquanto faço isso, hein!
Pense numa moeda parada em cima de uma mesa. Cara ou coroa? Um desses lados estará virado para cima. Na computação normal, baseada em diferentes combinações de 0 e 1, a lógica é essa do cara e coroa: uma coisa é ou zero ou um — aqui estamos falando dos bits, lembra dessa palavra?
Pois bem, na computação quântica, é como se moeda estivesse girando no ar, e não fosse necessário ou possível decidir entre cara ou coroa. Teríamos cara E coroa. Daí, em vez de bits o que entra em cena são os qubits, os bits quânticos. E eles podem ser 0, podem ser 1, mas também podem ser qualquer superposição entre essas duas coisas.
Certo, e o que você tem a ver com tudo isso?
Esse modo de “existir” do computador quântico permite que ele execute com rapidez tarefas que os computadores normais levariam muuuuuuito tempo se tentassem. Vamos para outra analogia, porque eu sei que isso facilita a vida: diante da tarefa de encontrar uma chave específica num chaveiro com milhões delas, um processador normal testaria uma por vez até encontrar. Um computador quântico, usando superposição, poderia testar todas de uma vez e encontrar a certa muito mais rápido.
Claro que isso tem o lado bom de melhorar a vida das pessoas e em pesquisas científicas, na medicina e na química por exemplo. Mas, como toda inovação, traz riscos, dependendo da (má) intenção de alguns usuários.

Sabe quando você quer tirar uma selfie na rua e tem medo de a gangue da bicicleta passar e arrancar seu aparelho? Nesse caso aqui, a gente teria roubos muito mais graves. Muito. Nível caos total no sistema financeiro, por exemplo. Porque a computação quântica poderia quebrar os sistemas de criptografia que atualmente protegem dados, comunicações e transações financeiras. Inclusive os reais suados que você e eu mantemos na conta bancária.
Sem falar em sistemas de infraestrutura pública, governo, saúde e defesa… Em geral, tudo que usa criptografia para proteger informações e operações poderia virar alvo de ataques quânticos. E não vou me estender nos outros perigos, porque você já entendeu o assombro, tenho certeza.
Quais os riscos de ataques quânticos realmente acontecerem?
Olha, só não aconteceram ainda porque os computadores quânticos que existem estão ainda em estado experimental e tem poder de processamento ainda insuficiente para quebrar a criptografia atual.
Mas são produtos criados por empresas grandes como Google, Microsoft, Intel e IBM (que, aliás, é dona da Red Hat, desse evento em que estou). Ou seja, é improvável que rolem no curto prazo, mas estima-se que até 2030.

Porém, existe risco de uma versão hacker do ditado das nossas avós, que diziam que “quem guarda tem”. Em outras palavras, roubar dados atuais, deixar armazenados e descriptografar quando o processador quântico estiver entre nós. A tática chamada “colha agora, decripte depois”
Aqui no evento, o que se fala é sobre cibersegurança para um mundo pós-quântico. Daí entram em cena os algoritmos pós-quânticos. Que são o quê? Uma resposta aos computadores quânticos — se a criptografia atual não der conta de proteger informações sensíveis, será preciso uma nova, afinal. Entre as novidades, houve o lançamento do sistema operacional Red Hat Enterprise Linux 10, que é criado para empresas e incorpora algoritmos de criptografia projetados para resistir a ataques de computadores quânticos, alinhados aos padrões internacionais mais recentes.
Eu sempre falo que o futuro já começou, como diz a mensagem de fim de ano da Globo, então terei que voltar a ela para dizer que tive bastante essa sensação nos últimos dias. Resta ver quão seguro ele será, no entanto.
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O jornalista viajou a convite da Red Hat