O mundo estava agitado em 1957. A Itália entrava para a União Europeia. Ali perto, na Inglaterra, Paul McCartney, então com 15 anos, conheceu John Lennon e começou a tocar com os Quarrymen, a banda que se tornaria os Beatles. No Egito, o Canal de Suez era reaberto após um ano fechado para o tráfego de embarcações. A União Soviética colocou em órbita a cápsula Sputnik 1, dando passo fundamental na corrida espacial. No automobilismo, o argentino Juan Manuel Fangio (1911-1995) vencia o Campeonato de Fórmula 1 pela quinta vez pilotando sua Maserati. Aqui, no Brasil, começava a construção do Copan, que se tornaria o mais popular edifício residencial projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012). No parque do Ibirapuera, o Planetário abria as portas para o público.
E foi nesse mesmo ano que o Fiat 500 chegou ao mercado.
O carro, pequeno e acessível, foi um marco para a montadora italiana. Sucessor do Fiat Topolino, era compacto, com apenas 2,97 metros de comprimento (pouco maior que os 2,70 de entre-eixos de um Toyota Corolla atual, apenas para efeito de comparação), e era focado no uso urbano. Seu simpático visual foi premiado no Compasso D’Oro, que escolhe anualmente o melhor design industrial. As vendas subiram e ele se tornou um ícone. Com o passar dos anos, ganhou outras versões, incluindo uma perua e uma mais esportiva, assinada por Carlo Abarth. A última versão à combustão chegou ao mercado em 2007 e ainda é vista rodando pelas ruas do Brasil. Em 2020, no entanto, passou por uma remodelação e tornou-se o 500e, versão elétrica, mais moderna, com design que remete ao original, mas que recebeu toques futuristas. E é esse o modelo disponível atualmente no mercado.
Durante uma semana, percorremos a cidade com o 500 elétrico. Fomos tomar um café no Copan, como uma forma de recuperar essa história conjunta entre o início da construção do edifício no mesmo ano em que o 500 original começava a circular na Europa. E usamos o carro em deslocamentos cotidianos. E a experiência foi bastante positiva. Com motor de 87kW (equivalentes a 118 cv) e 220 Nm torque, tem potência suficiente para torná-lo ágil no ambiente urbano. Por ser pequeno, é fácil achar vaga na rua ou parar em um estacionamento mais apertado. O interior é caprichado, com acabamento suave ao toque e um teto solar que aumenta a sensação de amplitude. Vem equipado com um pacote de assistências interessante, incluindo sensor de ponto cego, frenagem de emergência, detecção de pedestres, piloto automático adaptativo e alerta com auxílio para detecção de faixa e seis airbags.
É esperto, confortável, com visual moderno e clássico ao mesmo tempo que chama a atenção. Tem ainda três modos de condução, Normal, Range e Sherpa. O Normal entrega a rapidez de aceleração que se espera dos elétricos, mas a um gasto mais elevado de bateria. O Range reduz o consumo e ativa o sistema One Pedal, em que o carro começa a frear quando o motorista tira o pé do acelerador, regenerando a bateria. E o Sherpa torna essa frenagem ainda mais intensa, além de limitar a velocidade a 80 km/h. O carro fica mais moroso e menos divertido neste último modo, voltado apenas para os momentos em que é imprescindível economizar a carga.
Mas nem tudo é perfeito. O espaço na segunda fileira é muito apertado para qualquer adulto, e o porta-malas de 185 litros é pequeno. Mas o ponto de maior atenção é a autonomia. De acordo com o Inmetro, alcança apenas 227 quilômetros. Durante os testes, ficou mais próximo dos 200 quilômetros. È pouco.
Por conta desses fatores, o destino do 500e é incerto. Lá fora, sua produção foi suspensa por conta da baixa demanda e a Stellantis já afirmou que trabalha em uma versão híbrida, com motor à gasolina, para tentar ampliar o apelo. Por aqui, também tem vendido pouco. Em 2023, por exemplo, foram apenas 50 unidades comercializadas. O grande desafio foi imposto pelos chineses de entrada, que oferecem carros mais baratos com autonomia maior. O 500e, por exemplo, custa R$ 214.990 na única versão disponível, a Icon, enquanto o Dolphin Mini custa R$ 150 mil e tem autonomia maior, de cerca de 300 quilômetros.
Com uma versão híbrida, pode se tornar mais competitivo que a versão elétrica atual. O que é interessante, já que o 500e é um carro divertido e com muita história que merecia mais espaço no mercado brasileiro.