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Paulo Cezar Caju

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O papo reto do craque que joga contra o lugar-comum
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Cogitar Hulk de volta à seleção retrata a pobreza do nosso futebol

Ser grandão, fortão e correr feito um louco parece ser o pré-requisito do jogador "moderno". Que saudade dos boleiros do Caxinguelê

Por Paulo Cezar Caju Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 abr 2021, 18h07 - Publicado em 26 abr 2021, 17h07

Quando escuto o locutor cogitando a possibilidade de o atacante Hulk ganhar nova chance na seleção brasileira, não tenho dúvida que enxergo o futebol com outros olhos. Nem no auge da forma física e técnica merecia. Na minha saudosa pelada do Caxinguelê tinham vários melhores que ele, Evandro Mesquita, por exemplo. Como se não bastasse, no dia seguinte, nas redes sociais, dou de cara com uma turma elogiando as atuações de Daniel Alves e pedindo “amarelinha nele!”. Esses dois casos retratam bem a pobreza de nosso futebol e a dificuldade para realizarmos uma renovação de verdade.

Há quanto tempo não surgem bons laterais? Nem falo sobre as outras posições, mas insistir em Daniel Alves é andar para trás. As bases dos clubes não conseguem mais formar jogadores. Se for grandão, fortão e correr feito um louco já garante a vaga. E essas “qualidades” justamente é que não buscávamos em nossas peladas. Vou sugerir aos velhos boleiros do Caxinguelê que voltem a treinar e aviso ao Tite para dar uma conferida na performance da turma.

Nas peladas, as posições são decididas na hora e muita gente que nunca havia jogado naquele espaço de campo acaba se adaptando. Saudade de jogar com Dadi, Vinicius Cantuária e Jorge Davidson, o Baba, amigos de 40 anos. E se falo de Dadi lembro do grupo A Cor do Som. Estava doidão nessa época e lembro das várias vezes que Vinicius Cantuária escondeu o meu próprio dinheiro para que eu não comprasse drogas. Queridos amigos! Paulinho Boca de Cantor, Charles Negrita, Luiz Melodia, Helson Gracie, Nonato Buzar, Pepeu Gomes, Augusto Casé, Maurício Krieger, Rubinho, Zeca, Chiquinho, Madalena, Rodolfo e Acácio, esse que faz chifrinho em mim.

Caxinguelê, time de amigos de Paulo Cezar Caju
Os velhos boleiros do Caxinguelê (./Arquivo pessoal)

Em foto de pelada sempre tem um engraçadinho para fazer chifrinho. Mas esse era goleiro, não o que ficou famoso no Vasco. Me vinguei disso da melhor forma possível: fazendo muito gols nele. Era uma hora de pelada, com árbitro, oito na linha, um jogo de camisa azul e o outro verde, campo de terra batida e balizas grandes, um sonho. Quando chegava a hora de terminar, Seu Joaquim mandava parar e não adiantava pedir um chorinho. Alguns anos depois, Canário, uma figuraça, comprou o bar e, ali, realizamos incontáveis resenhas.

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Volta e meia apareciam Betinho Cantor, Moraes Moreira, Stepan Nercessian e Sombrinha, do Fundo de Quintal. E em pelada não tem essa de campeão do mundo e celebridades, todos são iguais. Dessa foto, Nando e Marcio já não estão mais entre nós, como também partiu o nosso verdadeiro futebol, o do improviso, do suingue, o da gingada na frente do marcador, o da caneta, o do balé.

Mas, Tite, infelizmente não poderei pedir para essa galera retornar aos treinos, pois aqueles momentos sublimes estão guardados em nossos corações. A grama sintética cobriu a terra batida e algum tempo depois o próprio Caxinguelê sucumbiu, assim como vários campinhos perderam a briga para a especulação imobiliária. E se hoje temos dificuldades em formar jogadores muito se deve ao desaparecimento desses campos, pois neles estão abrigados nossa essência, nossa verdade. A morte do Caxinguelê, podem acreditar, é a morte do futebol. Hoje somos obrigados a ouvir que o ala foi espetado na beirinha do campo após receber assistência!

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