Relâmpago: Assine Digital Completo por 1,99
Imagem Blog

Parlatório

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Uma seleção de opiniões que esquentaram o debate em blogs e redes sociais.

Receita para emplacar um sucesso nas rádios brasileiras

Forme uma dupla, componha um lamento sobre desilusões amorosas e cante à moda sertaneja. As chances de sucesso são enormes.

Por Marco Antonio Barbosa
Atualizado em 4 jun 2024, 20h28 - Publicado em 23 jan 2017, 21h14

MONOCULTURA, s.f.: sistema de exploração do solo com especialização em um só produto; unicultura.
Não há outro termo para definir o estado do mainstream musical brasileiro em 2016: uma vasta planície na qual se cultiva apenas um gênero. E o gênero em questão, vocês sabem, é o sertanejo. Com a divulgação do listão com as músicas mais tocadas do ano, confirmou-se, pelo não-sei-qual-ano consecutivo, a supremacia absoluta do estilo nas rádios brasileiras.

A dominação não chega a ser surpresa. Entretanto, a extensão que o sertanejo assumiu em 2016 é sim surpreendente. Os caubóis e as vaqueiras expulsaram de forma quase completa todos os outros estilos das rádios, destroçando sons (antes?) populares como o funk, o samba e o romântico/brega tradicional e, de forma ainda mais espantosa, aniquilando a presença de artistas internacionais no hit parade.

Hip hop, rock, EDM (Eletronic Dance Music), tecnobrega, axé e MPB nem aparecem na lista. Confira no infográfico abaixo:

datamab1
()

O massacre da peãozada foi tão acachapante, que corri atrás do resultado de anos anteriores para entender como chegamos a esse ponto.

Continua após a publicidade

Os gráficos abaixo compreendem o período 2012–2016 e mostram como, ano a ano, o sertanejo veio desbancando todos os outros estilos e, por tabela, chutando a música estrangeira para fora do Top 100. Se entre 2012 e 2014 havia um certo equilíbrio (uma média 60%-40%), em 2015 o sertanejo passou a ocupar três em cada quatro lugares do Top 100.

A mesma tendência se confirmou na comparação entre a presença de artistas brasileiros X estrangeiros. Em 2013, Anitta chegou ao terceiro lugar do ano com “Show das Poderosas”, a melhor posição alcançada por uma canção não-sertaneja. Em 2016, o primeiro hit não-caipira a surgir no Top 100 foi “Cancún” (Thiaguinho), em vigésimo lugar.

datamab2
()
Continua após a publicidade

A monocultura também se manifesta nas letras dos grandes hits do ano. Quando fiz o primeiro estudo sobre o Top 100, em 2015, as temáticas me pareceram um pouquinho mais variadas. Em 2016, a sofrência dominou o panorama. Quase metade das 100 músicas mais executadas no ano passado versam sobre amores que não deram certo, abandono, depressão etc.

A porcentagem poderia ser maior, se eu não tivesse sido preciosista e criado duas outras categorias (“Flagrante” e “Despedida”) que, no fim das contas, não deixam de ser também dor de corno. Somadas às outras letras mais genéricas sobre romance & sexo, a conclusão é óbvia: ao menos na música popular, o amor ainda vence tudo. Houve um certo declínio nas músicas sobre bebedeira e farra (talvez por reflexo da carestia).

datamab3
()
Continua após a publicidade

Para encerrar, a comprovação de que o formato obrigatório para chegar ao sucesso é a dupla sertaneja. Das 100 mais tocadas no ano, 60 foram creditadas a duos (ou a duos em duetos com outros artistas, incluindo outros duos — entenderam?). Os grupos estão mesmo em baixa: só dois (Sorriso Maroto e Turma do Pagode) emplacaram entre as 100 mais.

Continua após a publicidade
datamab4
()

A lista completa das 100 mais de 2016 está aqui. Fonte de todos os dados citados: Crowley Broadcast Analysis.

* Texto originalmente publicado no Medium pelo jornalista e escritor Marco Antonio Barbosa

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

ECONOMIZE ATÉ 88% OFF

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.