Senador Álvaro Dias sobre as eleições: ‘Virá uma onda de centro’
Senador pelo Podemos e pré-candidato à Presidência, ele afirma que polarização entre Lula e Bolsonaro não se mantém
Pré-candidato à Presidência da República pelo Podemos, o senador Álvaro Dias diz que há uma “distorção interpretativa” nas pesquisas eleitorais (a última, do Datafolha, mostra Dias com 4% das intenções de voto), afirma que a polarização entre Lula e Jair Bolsonaro não se mantém e garante que o centro vai ser o catalizador de um movimento “avassalador” de mudança.
Ex-governador do Paraná, Dias falou sobre sua experiência no governo, as denúncias contra parlamentares do Podemos e sobre o cenário eleitoral em seu estado, onde espera uma união em torno da sua candidatura.
As pesquisas de intenção de voto têm mostrado uma polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado carioca Jair Bolsonaro (PSC-RJ)? Como o senhor se vê nesse cenário?
Pesquisa hoje vale para medir rejeição. Rejeição diz respeito ao passado e ao presente. É algo construído pelo candidato a favor ou contra. Rejeição mede potencial de votos. Quem tem menos rejeição tem mais potencial de votos. O que está ocorrendo é que estão valorizando mais a intenção de votos, que é algo que será construído ainda. Está havendo uma distorção interpretativa. A intenção de votos do atual momento diz respeito a um parcela pequena que já definiu seu voto, que já tem certeza do voto.
Isso vale para os líderes das pesquisas?
Isso vale para todos. A população ainda está distante do processo eleitoral. O jogo não começou. Estão analisando pesquisa como se a eleição fosse depois de amanhã. Não é. A campanha começa em quinze de agosto. A eleição está aberta e tudo pode acontecer. Eu aposto na inteligência das pessoas. O Datafolha revela que as exigências prioritárias do eleitor são experiência administrativa e passado limpo. Então, é evidente que a pesquisa qualitativa contrasta com os nomes que estão na liderança. O que vai prevalecer é o desempenho dos pretendentes durante o exercício da atividade pública. Aí entra o itinerário de cada um. O itinerário que autoriza as propostas. Eu fui governador do Paraná e terminei com 93% de aprovação, segundo o Datafolha. Alguns atos praticados durante o meu governo podem dar sustentação aos compromissos que eu pretendo assumir. Quando eu falo em ruptura com o atual sistema corrupto de governança é preciso verificar que sistema de governança eu pratiquei. Eu instalei balcão de negócio? Fiz barganha do toma lá dá cá? Montei equipe com base em indicações partidárias ou em critérios de probidade e competência? Se eu vou propor ruptura com esse sistema tenho de apresentar credencial. Eu tenho credencial e com elas vou apresentar uma amplo projeto de reforma do estado.
Quais reformas?
Não diz respeito apenas ao Executivo. Começa pelo Executivo, com redução de estruturas paralelas, eliminação de ministério, departamentos, secretarias e cargos comissionados. Temos centenas de empresas estatais e quase todas elas devem ser privatizadas, a não ser algumas estratégicas. Mas isso não fica apenas no Executivo, a reforma passa pelo Legislativo. Vou propor a redução de três senadores para dois, redução de 20% dos deputados federais que será replicada nas Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. Esse é um compromisso que iremos assumir. Temos um presidencialismo de poder, em que as reformas profundas só ocorrem quando a presidência assume liderança do processo. Isso passa pelo Judiciário também. Vamos eliminar penduricalhos. Salário deve ser valorizado mas vamos eliminar penduricalhos. São privilégios. Obviamente que ao propormos eliminação de privilégios temos de abrir mão dos nossos próprios. E eu faço isso com tranquilidade porque abri mão dos meus. Aposentadoria de ex-governador do Paraná, por exemplo. São 26 anos de renúncia. Há mais de dez anos que renuncio a auxílio-moradia e verba indenizatória no Senado. Eu creio que são duas perguntas a serem feitas. Quem combate privilégios abriu mão dos seus próprios privilégios? Outra pergunta é: onde vocês estavam quando o Brasil estava sendo assaltado? Alguns se acumpliciaram e ficaram no conforto da zona de poder, se beneficiando de desvios, de benesses, em postura de conivência ou cumplicidade. Hoje se apresentam com valentia ímpar. Depois que o barco afundou muita gente pulou e passou para o outro lado. No momento em que o país necessitava de vozes que se opunham à incompetência, à manipulação dos números na economia, à corrupção brutal, esse pessoal estava em silêncio. Essa é uma distinção que o eleitor terá de fazer.
O senhor tem se valido muito do discurso ético, mas recentemente um deputado do seu partido [Carlos Gaguim, do Tocantins] foi alvo de uma operação da Polícia Federal que apurava corrupção em obras no Tocantins…
No caso do deputado do Tocantins a imprensa não fala que ele já tinha sido afastado pelo partido. Nós nos antecipamos à ação da Polícia Federal…
Também há uma deputada investigada por tortura [Jozi Araújo, do Amapá]…
No caso da deputada não procede. Segundo ela, o que há é uma tentativa de achaque, o que é bem diferente. Mas desde o primeiro momento, o Podemos tem sido rigoroso. Logo que ingressei no partido tem se tornado prática. Prefeito do interior da Paraíba pegou quatro mil reais, foi expulso. Em Foz do Iguaçu vereadores foram presos e cassados. Foram expulsos. Deputados do Rio de Janeiro votaram a favor de colegas presos. Foram expulsos. Líder do partido na Câmara (Alexandre Baldy, de Goiás) não seguiu orientação da Executiva e votou a favor de Michel Temer na primeira denúncia. Tiramos dele. Depois ele virou ministro, mas já não era do Podemos. Esse do Tocantins, já quando houve a denúncia eu pedi em público para que ele deixasse o partido. Demorou para deixar o partido e nós tiramos dele o partido. Queremos clareza.
O Podemos sozinho tem condições de garantir condições para uma candidatura competitiva? O partido avalia coligações para 2018?
Temos posição de combate às grandes alianças. Isso também causa essa tragédia política que vivemos. Aceitamos a coligação desde que não comprometa nossas propostas e objetivos.
Como o senhor avalia o cenário das eleições no Paraná, onde seu irmão [Osmar Dias, do PDT] é pré-candidato governo do estado?
Estou aguardando. Tenho ficado um pouco distante e sem interferir no processo. Faço isso até em prejuízo da organização do meu próprio partido.
Seu projeto é a Presidência?
É irreversível. Sei que no Paraná há uma condenada autofagia e às vezes ela ressurge. Mas hoje eu sinto que há uma valorização do próprio estado. A expectativa que eu tenho é de unidade no estado em torno de um projeto que nasce aqui e que tem perspectivas favoráveis. Eu tenho esperança e imagino que esteja emergindo um movimento de mudança no país que possa se tornar avassalador e irreversível. É um movimento que não passa pela polarização política, ao contrário renega esse Fla x Flu de direita e esquerda e percorre um caminho de centro. Vai chegar o momento em que o eleitor vai pensar e refletir. Ele vai votar com inteligência e não com o fígado. O momento de revolta, essa reação inicial de raiva, dará lugar a uma reação inteligente. Esse país é um desafio. Não podemos reeditar a tragédia que estamos vivendo.
Vou insistir na questão regional, senador. O seu irmão tem conversado bastante sobre alianças, inclusive com o senador Roberto Requião [PMDB]. O senhor se vê num palanque com o senador Requião?
Eu não terei palanque no Paraná. Minha expetativa é que o Paraná se una em torno de um projeto paranaense à Presidência. Não estarei aqui na campanha. Estarei ausente da campanha no Paraná. Estarei pelo Brasil afora esperando que os paranaenses façam a minha campanha. Não vou me envolver. Em relação ao Osmar, a legislação que determina. Se eventualmente ele ficar no PDT, ele não pode fazer manifestação a meu favor e eu não posso fazer a favor dele. A tendência dele, ao que parece, é permanecer lá. Agora, se ele mudar de partido, vier para o Podemos…
O senhor o convidou?
Sim. Desde o início o partido ficou de portas abertas para ele. Se eventualmente ele fizer essa mudança para um partido que esteja na nossa aliança, ou para o próprio Podemos, há possibilidade do engajamento.
O senhor falou de um conjunto de reformas necessárias. No momento o governo Temer discute a reforma da Previdência. Como o senhor avalia essa reforma?
A reforma da Previdência é muito importante, mas eu acho muito simplista essa reforma que o governo propõe. Não leva em consideração a complexidade social do país, diferenças regionais, longevidades diferentes e atividades diferentes e é preciso resolver conflitos e não alimentar conflitos. A reforma da previdência tem de ser mais discutida a analisada. Toda reforma tem de ser submetida à sociedade e o presidente da República tem de ter capacidade comunicação para mostrar que aquela é uma decisão que vai beneficiar a população e não o contrário.