“It’s been a long time coming” — em uma adaptação para o bom português, “foi uma longa espera”. Com esse verso simbólico de Miss Americana & the Heartbreak Prince, do álbum Lover, Taylor Swift deu início ao primeiro dos seis shows esgotados que fará no Brasil com a badalada The Eras Tour. Para as mais de 60.000 pessoas que lotaram o Engenhão nessa sexta-feira, 17, realmente foi uma longa espera. A cantora, que subiu ao palco às 19h32, se apresentou no país com uma turnê pela primeira vez na carreira, depois de uma passagem rápida pelo Rio de Janeiro em 2012, para um show privado, e de dois shows cancelados em São Paulo em 2020, por causa da pandemia. “É a minha primeira vez de volta ao Brasil após 11 anos”, disse Taylor, admirando o público. “Essa é a plateia dos meus sonhos de infância”, completou, sorridente.
Dizer que a espera compensou é pouco para descrever o que se viu no Rio de Janeiro esta noite. Debaixo de um calor de 30ºC, Taylor enfrentou uma maratona de mais de três horas de muita música, dança e trocas de roupa. Sob gritos eufóricos da plateia, ela desfilou por um palco monumental, maior que meio-campo de futebol, enfileirando 44 sucessos que transportaram o público a uma viagem teatral por todas as “eras” de sua carreira. Estão ali os cachos angelicais e os vestidos de debutante dos juvenis Fearless e Speak Now, as baladas emocionais do RED, bem representadas pelos dez minutos de frenesi coletivo em All Too Well, o pop ora dançante, ora romântico, ora vingativo do Lover, 1989, Midnights e Reputation, e os contos intimistas do Folklore e Evermore, que fazem brotar do palco cenários quase folclóricos, como uma cabana que parece imersa no isolamento de florestas temperadas, mesmo que montada no meio da zona norte carioca.
A magnitude do show sintetiza o ritmo frenético de composição da americana: de 2019 para cá, Taylor lançou quatro álbuns inéditos que acabaram sem turnê em função da pandemia. Para abarcar os filhotes do lockdown, idealizou a The Eras, colocando no pacote não apenas os álbuns que nunca haviam sido tocados ao vivo, mas também seus trabalhos anteriores, forjando um espetáculo musical divido em dez atos. No palco, o poder emanado pela anfitriã é tanto que Sarah Paulson comparou a experiência de assisti-la a algo divino. “Foi como estar em uma sala com Deus”, proclamou a atriz.
Simpática mesmo em meio ao calor carioca, a loirinha, como é carinhosamente chamada pelos fãs, alternou números musicais em que canta, dança e toca violão e piano, com interações com o público. Em determinado momento, chegou a interromper o show por alguns minutos para garantir que uma porção de fãs, que pediam por água por conta do forte calor, fossem atendidos. Taylor também aproveitou para agradecer pela homenagem feita no Cristo Redentor: “Não me sinto digna dessa honra, mas meio que é uma das melhores coisas que já fizeram por mim”, disse. Em um dos momentos mais aguardados da noite, ela pegou o violão e tomou a extremidade do palco para cantar duas músicas surpresas, que variam de show para show. As escolhidas da noite foram Stay Beautiful, canção de seu primeiro álbum, Taylor Swift, de 2009 — presente para os fãs brasileiros que estão com ela desde o começo, conforme explicou a americana –, e Suburban Legends, faixa extra da regravação 1989 (Taylor’s Version), lançada no final de outubro.
A atmosfera do palco foi vista também na plateia. Das cadeiras à pista, diversos “swifties”, como são chamados os fãs da cantora, foram vestidos de maneira temáticas, com roupas de reproduzem a estética de cada álbum. Nos braços, diversas pulseirinhas com referências à Taylor aguardavam para serem trocadas com outros fãs — o rito inspirado na letra de You’re On Your Own, Kid, fez a busca pelo termo “pulseirinhas da Taylor Swift” saltar 130% no Google, enquanto a procura pelas miçangas que compõem o acessório subiu 74% no Mercado Livre.
Na estrada desde Março, e ainda longe do fim, a The Eras Tour está cotada para ser a primeira da história a atingir uma arrecadação bilionária. O giro começou nos Estados Unidos e, antes de chegar ao Brasil, passou também pelo México e Argentina. Por aqui, Taylor se apresenta novamente no Rio de Janeiro, no sábado, 18, e no domingo, 19. Depois, parte para São Paulo, onde toca nos dias 24, 25 e 26.
As apresentações na capital paulista serão as últimas antes de uma pausa de cerca de três meses no itinerário. Em fevereiro, Taylor retoma a turnê com uma perna asiática, passando em seguida por Europa, Oceania e Canadá até dezembro de 2024. Ao final, ela terá se apresentado mais de 150 vezes ao redor do globo — se todas tiverem a mesma energia que tomou o Engenhão por três horas em uma sexta-feira fervente, terá valido a espera.