Muito já foi dito desde o pesadelo da noite de sexta-feira, 17, no Rio de Janeiro, quando o aguardado primeiro show de Taylor Swift no Brasil se transformou em palco de horrores. A sequência do ocorrido se revelou também assustadora: desde então, se impôs um silêncio assustador por parte dos responsáveis diretos e indiretos da estrutura caótica que culminou em mais de 1.000 pessoas desmaiadas de calor — e na morte da jovem Ana Clara Benevides, de 23 anos. Não, não foram suficientes os comunicados liberados pela empresa T4F, que não demonstram a humanidade necessária, muito menos uma postura mais incisiva sobre como os próximos shows serão diferentes. Não houve, aliás, ninguém no sábado, 18, para subir no palco e avisar os fãs já dentro do estádio que aquele show seria adiado: os presentes souberam da notícia pelas redes sociais da cantora. E Taylor não sai incólume diante das críticas.
Pegou mal a opção da cantora por lamentar a morte da fã apenas nas redes sociais, sem ao menos citar o nome de Ana Clara no texto, e muito menos ignorar o ocorrido na segunda apresentação no país, no domingo, 19, também no Rio. “Eu não vou conseguir falar sobre isso no palco porque me sinto tomada pelo luto ”, diz o comunicado da artista. Nas redes sociais, Molly McPherson, profissional de relações-públicas e especialista em declarações de artistas, fez um vídeo analisando o comunicado de Taylor, e afirmou que o objetivo da cantora é se distanciar da tragédia e não ficar marcada pela morte. A postura, porém, é inaceitável, especialmente ao se tratar de Taylor Swift, que ganhou fama por sua capacidade de se conectar com os fãs com letras íntimas e confessionais.
Para piorar, é inconcebível a demora tanto da produção da cantora quanto da própria T4F em prestar suporte financeiro, burocrático e psicológico aos familiares de Ana Clara, que receberam ajuda de uma vaquinha feita por fãs para trasladar o corpo de volta para a sua cidade natal. As investigações policiais ainda vão dizer o que aconteceu, mas proibir a entrada de água no estádio, vender as bebidas por preços exorbitantes dentro do estádio, tampar as saídas de ventilação para evitar que quem estivesse de fora pudesse ouvir, transformando o local em um forno, e colocar placas de metal no piso, que ficaram tão quentes a ponto de causar queimaduras de segundo grau nos fãs, beira a tortura.
Nas redes sociais, os fã-clubes da cantora decidiram homenagear Ana Clara nesta segunda-feira, 20, fazendo silêncio após Taylor cantar a música Champagne Problems. Depois, desistiram da ideia e agora estão incentivando apenas o uso de cartazes com os dizeres: “Ana Benevides Will Be Remembered” (Ana Benevides será lembrada).
O ato simbólico mostra o que os fãs esperam dos organizadores e da própria Taylor: essas pessoas, que gastaram muitos recursos e se empenharam em participar do evento, querem simplesmente compaixão — e a certeza de que eles também não serão esquecidos pela artista. A equipe de Taylor pode até pensar que se trata de um problema pontual em um país tropical longe dos Estados Unidos, mas a notícia já se espalhou na mídia internacional. O jornal The New York Times publicou nesta segunda-feira uma reportagem falando sobre a comoção dos fãs e a falta de organização no Brasil.
Procurada pela reportagem de VEJA, a T4F divulgou um comunicado-sabonete — jargão jornalístico para dizer alguma coisa escorregadia, sem se comprometer. “Reforçamos que continuamos com o canal de contato aberto com a família e solidários neste momento difícil e ficamos à disposição para dar toda a assistência necessária”, diz um trecho do comunicado que não diz nada. Respostas rápidas e contundentes ainda estão em falta.
Acompanhe notícias e dicas culturais nos blogs a seguir:
Tela Plana para novidades da TV e do streaming
O Som e a Fúria sobre artistas e lançamentos musicais
Em Cartaz traz dicas de filmes no cinema e no streaming
Livros para notícias sobre literatura e mercado editorial