Morre João Donato, um dos expoentes da Bossa Nova, aos 88 anos
O compositor e pianista promoveu a fusão da música latina com o jazz
O compositor e pianista João Donato morreu nesta segunda-feira, 17, aos 88 anos. A informação foi confirmada nas redes sociais oficiais do artista. “Hoje o céu dos compositores amanheceu mais feliz: João Donato foi para lá tocar suas lindas melodias. Agora, sua alegria e seus acordes permanecem eternos por todo o universo”, diz o texto publicado no Instagram. A causa da morte não foi divulgada, mas o músico enfrentava nos últimos meses uma série de problemas de saúde. O corpo do artista será velado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e deverá ser cremado no Memorial do Carmo.
Filho de um major da aeronáutica, João Donato de Oliveira Neto nasceu em Rio Branco, no Acre, em 17 de agosto de 1934. Aos 11 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro. Logo na infância, demonstrou grande interesse pela música, aprendendo rapidamente a tocar acordeão. Foi no instrumento que ele compôs sua primeira música, a valsa Nini, aos 8anos. Em 1949, aos 15 anos, Donato já era um músico profissional, participando de jam sessions na casa de grandes crooners brasileiros, como Dick Farney, com a presença de artistas como Johnny Alf, Nora Ney, Dóris Monteiro e Jô Soares.
Na década de 50, deixou o Brasil para morar no exterior e chegou a excursionar pela Europa com João Gilberto. Foi apenas na década de 60, quando retornou ao Brasil, que compôs dois álbuns que se tornariam clássicos da música instrumental nacional: Muito à Vontade (1962) e A Bossa Muito Moderna de João Donato (1963). No final da década, voltou a morar nos Estados Unidos, onde formou com João Gilberto, Tom Jobim, Moacir Santos, Eumir Deodato, Sergio Mendes e Astrud Gilberto o grupo de artistas brasileiros que apresentaram a Bossa Nova ao mundo. Uma de suas composições mais conhecidas é Minha Saudade, feita em parceria com João Gilberto.
O compositor também é autor de Amazonas, gravada por Chris Montez, A Rã e Caranguejo, gravadas por Sérgio Mendes. No final dos anos 60, ele lança o álbum A Bad Donato, onde condensava ritmos como funk, psicodelia, soul music e jazz fusion com a música brasileira. O resultado arrebatou o mundo, com sons absolutamente originais e dançantes. Seu último lançamento foi Serotonina, o primeiro trabalho-solo com canções inéditas em 20 anos.
Em 2000, ele ganhou o Prêmio Shell de Música pelo conjunto da obra. Em 2003, foi a vez de ganhar o prêmio da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). Em 2004, foi contemplado com o Prêmio Tim pelo disco Emílio Santiago encontra João Donato. Em 2016, foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Instrumental por seu álbum Donato Elétrico. O músico era uma das atrações confirmadas do festival Coala. Ele se apresentaria no dia 16 de setembro, no Memorial da América Latina, em São Paulo, em um show em conjunto com Martinho da Vila.