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Kanye West: a anatomia da queda do astro falastrão do rap

Um dos ídolos do gênero choca fãs com falas antissemitas e racistas e coloca em risco a fama de ser imune ao cancelamento

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 29 out 2022, 08h00

Conhecido pelos arroubos verborrágicos em seus shows, o rapper americano Kanye West parou uma apresentação que fazia na Inglaterra, em 2011, para um gesto de autocomiseração: ele afirmou que, quando andava pelas ruas, se sentia tão odiado quanto o ditador nazista Adolf Hitler. “As pessoas me olham como se eu fosse louco. Como se eu fosse Hitler. Um dia a luz vai brilhar e entenderão tudo o que fiz”, disse. O tempo passou, e as pessoas continuam sem entender nadica do que ele fala — e, menos ainda, a ver alguma luz no que faz. Olhando em retrospecto, West — hoje rebatizado simplesmente de Ye — só ampliou desde então o calibre das atrocidades capazes de sair de sua metralhadora verbal. Agora, enfim, a conta chegou para o boquirroto do rap.

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Tido como um artista visionário no início de carreira, com músicas que juntavam afirmação racial a devoção religiosa de forma inspirada, West deu mostras de que algo não andava bem em 2009, quando cometeu a grosseria de interromper o discurso de Taylor Swift numa premiação da MTV americana para proclamar que outra estrela (Beyoncé) é que merecia o troféu. De lá para cá, a coisa foi ladeira abaixo, culminando em uma histriônica candidatura à Presidência dos Estados Unidos em 2020, na louvação amalucada do ex-presidente Donald Trump — e mais outras toneladas de declarações grotescas.

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Nos últimos dias, no entanto, West cruzou limites impensáveis até para sua figura ao protagonizar episódios de antissemitismo e preconceito. No Twitter, postou um texto dizendo que aumentaria seu “estado de alerta” em relação aos judeus. Um grupo de supremacistas brancos pendurou faixas num viaduto com a frase “Kanye está certo sobre os judeus”, enquanto fazia saudações nazistas. Dias antes, foi a um desfile de sua grife Yeezy, em Paris, usando uma camisa com os dizeres: “White Lives Matter” (“Vidas Brancas Importam”), slogan de cunho racista que se contrapõe ao movimento Black Lives Matter. Em entrevista, West afirmou ainda que George Floyd, cidadão negro morto na brutal ação da polícia que inspirou os protestos de 2020, teria na verdade sido vítima da overdose de um opioide. A avalanche de despautérios foi coroada com o anúncio de que West comprou o Parler, rede social favorita da extrema direita e território sem lei das fake news. “Ele foi longe demais”, criticou, quem diria, seu ídolo Trump.

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POLÊMICAS - Com a ex Kim Kardashian (à esq.); usando a camiseta com dizeres racistas (no alto, no centro); o ataque a Taylor Swift em 2009 (acima); e apoiando Donald Trump: uma metralhadora verbal sem limites -
POLÊMICAS - Com a ex Kim Kardashian (à esq.); usando a camiseta com dizeres racistas (no alto, no centro); o ataque a Taylor Swift em 2009 (acima); e apoiando Donald Trump: uma metralhadora verbal sem limites – (Taylor Hill/FilmMagic/getty images; TWITTER @RealCandaceO; Jeff Kravitz/FilmMagic/getty images; Ron Sachs/Consolidated News Pictures/Getty Images)

Até pouco tempo atrás, o rapper era um caso de estudo do “efeito teflon” nas redes sociais: por mais que falasse horrores ultrajantes, parecia imune ao tão temido cancelamento. Agora, a tarefa de separar o artista do homem lamentável tornou-se impossível. Após as declarações antissemitas e racistas, Ye teve suas contas no Twitter e no Instagram restritas. A família de George Floyd abriu um processo contra ele e pede 250 milhões de dólares por difamação. As grifes Balenciaga, GAP e Adidas, que mantinham com o rapper contratos que totalizavam cerca de 1,5 bilhão de dólares, encerraram a parceria, cortando a principal fonte de renda do músico atualmente.

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Filho de um ex-membro do Panteras Negras e de uma professora, West envolveu-se com o cenário do hip-­hop de Chicago, onde cresceu, tornando-se um requisitado produtor. Já naquela época era inclinado a delírios de grandeza. Achava-se um gênio da música antes mesmo do sucesso: ainda não tinha nenhum rap próprio gravado quando contratou uma equipe de documentaristas para registrar sua busca pela fama (a empreitada deu origem à série Jeen-Yuhs, da Netflix). Aos 45 anos, acumula 24 prêmios Grammy, mas seus discos vêm se tornando cada vez mais irrelevantes — consistem hoje em libelos religiosos nos quais ele ocupa o lugar do Messias.

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O comportamento errático de West costuma ser justificado por um problema mental que o artista nunca escondeu — ao contrário. Diagnosticado com transtorno bipolar, West já atribuiu seu sucesso à doença, um “superpoder” que o teria levado a sacudir o hip-hop. Em 2007, porém, sua carreira saiu dos trilhos em razão da morte da mãe. Ele parou de se tratar e, desde então, atitudes inconsequentes se acumularam. A situação melhorou em 2014, quando se casou com Kim Kardashian. West teve quatro filhos com a socialite e voltou a desfrutar certa estabilidade emocional, mas abandonou de novo o tratamento ao se separar dela, em 2020 (hoje, namora a modelo brasileira Juliana Nalú, de 23 anos). Sua condição mental compadece, mas nada serve de licença às explosões racistas e antissemitas dos últimos dias. Kanye West precisa se olhar no espelho — e perceber quanto o Messias diante de si configura hoje um retrato lamentável.

Publicado em VEJA de 2 de novembro de 2022, edição nº 2813

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