“Grammy não é um concurso de popularidade”, diz presidente da premiação
Em entrevista a VEJA, Harvey Mason Jr. falou sobre os brasileiros no Grammy e das mudanças feitas para evitar um boicote como o que ocorreu com o The Weeknd
Indicado interinamente em 2020 como presidente da Academia Nacional de Artes e Ciências de Gravação, a instituição responsável por promover o Grammy, o produtor musical Harvey Mason Jr. enfrentou logo em seu primeiro ano um problemão daqueles. O músico The Weeknd, que na época ocupava as primeiras posições das paradas musicais, não recebeu nenhuma indicação para o prêmio de 2021. Revoltado com isso, o artista resolveu boicotar a atração e criticou veementemente a maneira como os indicados eram escolhidos. Apesar disso, Mason foi efetivado permanentemente no cargo e, mais uma vez, teve que enfrentar outro problema no ano seguinte: a premiação de 2022, que marcaria o retorno à normalidade no pós-pandemia, precisou ser adiada e transferida para Las Vegas após o surto de uma nova variante. Agora, finalmente, as coisas parecem ter voltado aos eixos e o Grammy retorna para o seu local de origem, em Los Angeles. A festa que revelará os vencedores ocorrerá neste domingo, 5, com transmissão no Brasil pelo canal por assinatura TNT.
Em entrevista a VEJA, Harvey Mason Jr. falou sobre as mudanças feitas na premiação para evitar casos como o do The Weeknd e comentou ainda sobre os brasileiros e latinos no Grammy. O Brasil, aliás, sempre foi muito bem representado na festa e já ganhou o gramofone várias vezes com Roberto Carlos, Milton Nascimento, Caetano Veloso, entre outros. No ano passado, por exemplo, a pianista Eliana Elias levou o prêmio de melhor álbum de jazz. Neste ano, as fichas estão em Anitta, que disputa o prêmio pela primeira vez na categoria artista revelação.
Pela primeira vez desde o início da pandemia, a cerimônia do Grammy voltará a ser realizada tradicionalmente em Los Angeles. Quais foram os preparativos para a festa? Estamos esperando por essa noite há três anos. No ano passado, tivemos que mudar para Las Vegas devido a um novo surto de Covid. Estou muito animado em voltar para Los Angeles. Acredito que neste ano teremos a melhor reunião de artistas num mesmo local da história. Serei apenas um fã sorrindo de orelha a orelha vendo tudo acontecer. Os principais indicados deste ano são mulheres e metade dos indicados são negros.
O Brasil sempre foi muito bem representado no Grammy, especialmente em categorias como o jazz. Neste ano, a Anitta foi indicada na categoria revelação. Como vê a participação do país na premiação? No geral, o Brasil é sempre muito bem representado. Sempre me empolgo com a música de vocês. Algumas pessoas indicados neste ano parecem ter uma chance ótima por terem feito um trabalho incrível no ano passado. Com certeza o Brasil pode se orgulhar muito da sua música.
A música latina domina as paradas americanas. Como o senhor avalia o crescimento desse mercado nos Estados Unidos? Vejo a música latina como próspera, explosiva e dominante. A música latina teve um enorme impacto na cultura em todo o mundo. A música, de maneira geral, abre os olhos e muda as mentes, aquece os corações. E a música latina faz isso muito bem. Você olha as paradas e vê o influxo de músicas que estão em espanhol. O Bad Bunny foi indicado a Álbum do Ano com um disco em espanhol. Porém, vale lembrar também que há boa música vindo da Coreia, da África e do Oriente Médio. Há cenas musicais acontecendo em todo o mundo. Reconhecemos a importância da música latina há 20 anos com a criação do Grammy Latino, que tem mais de 5.000 membros em 53 categorias.
Que mudanças foram feitas no Grammy para ter mais diversidade entre os indicados? Fizemos muitas mudanças, desde os critérios de convite para as pessoas se tornarem parte da nossa organização até novas categorias de premiação. Aumentamos a transparência em torno da nossa equipe e diretoria. Requalificamos nossos membros. Ou seja, nos últimos anos, 95% dos nossos membros tiveram que se requalificar para garantir que ainda sejam profissionais do ramo para que possam votar. Queremos também ter certeza que estamos ouvindo as vozes sub-representadas. Estamos deixando a Academia mais e mais receptiva. Uma das coisas que estou realmente orgulhoso é a maneira como a Academia foi capaz de evoluir e se ajustar aos novos tempos. Nos tornamos um verdadeiro parceiro da indústria e da comunidade criativa. Estamos prestando atenção no feedback que eles estão nos dando. Acredito que essa foi a maior mudança.
Em 2021, o músico The Weeknd boicotou a premiação por não ter sido indicado em nenhuma categoria, a despeito de todo o favoritismo. Como evitar que casos como esses voltem a acontecer? O Grammy não é um concurso de popularidade. Não são os fãs que votam. Não é uma votação dos jornalistas. Não é a quantidade de streams que você tem que diz que você merece ganhar. São seus colegas e as pessoas que você respeita e que respeitam você que votam e concedem esse prêmio. O que posso dizer é que passamos a ouvir as críticas, as aceitamos e as assumimos de pé. Quando alguém tem uma crítica – e não me importa se é um artista novo ou lendário – nós ouvimos com muita atenção. Estamos tentando melhorar. Me preocupo com a Academia porque conheço a sua missão. Então, quando um artista fala, e muitos deles são meus amigos com quem já fiz música e já trabalhei em estúdio, eu escuto e levo no coração. Como podemos ser mais representativos e refletir a música que está acontecendo? Como podemos honrar a indústria e todos os criadores com precisão? Sim, podemos errar uma indicação. Tenho certeza que algo acontecerá este ano e alguém ficará chateado. Quando houver cinco indicados, haverá um vencedor, isso significa que quatro pessoas ficarão chateadas. Portanto, podemos garantir que alguém sairá da premiação infeliz. Sinto muito, fico chateado e desapontado porque nem todos estão felizes com os prêmios. Queremos acertar isso, estamos fazendo o que podemos para torná-lo melhor. Estamos atualizando nossa lista de membros e analisando todos os nossos processos. E sinto muito, eles não são perfeitos, mas vamos continuar trabalhando nisso.