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Filme sobre Amy Winehouse exagera na ficção — e fica devendo a verdade

Cinebiografia 'Back to Black' supera baixa expectativa, mas não faz jus ao incrível legado da cantora

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 Maio 2024, 11h13 - Publicado em 16 Maio 2024, 15h52
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  • Em um dos raros momentos do filme Back To Black, cinebiografia de Amy Winehouse (interpretada por Marisa Abela), que mostra a cantora sob efeito da heroína e álcool, seu pai, Mitchell (Eddie Marsan) encontra no armário um cachimbo de vidro. Sua reação, talvez a mais incisiva do filme contra o vício que matou a filha em 2011, aos 27 anos, é esconder o objeto em seu bolso enquanto a filha padece na sala. Em outro momento, o marido da cantora, Blake (Jack O’Connell), aparece apresentando cocaína para Amy. Além disso, para suportar a insuportável perseguição dos paparazzi, Amy se afunda ainda mais no álcool. Mais do que encontrar um responsável pela morte da cantora, a cinebiografia de Amy, em cartaz nos cinemas, tenta humanizar a artista, focando a história no seu relacionamento com Blake.

    Tão implacável quanto a perseguição dos paparazzi, as críticas estrangeiras ao filme foram atrozes, mas o resultado não é tão ruim quanto se esperava. Como entretenimento, Back To Black envolve os espectadores. Sam Taylor-Johnson entrega uma direção competente, a cenografia é ótima e a montagem idem. A trilha sonora e até a interpretação de Marisa Abela sustenta a tremenda responsabilidade de levar para as telas o vozeirão, vencedor de cinco prêmios Grammy.

    Mas um filme não se sustenta apenas dessas qualidades. Apesar dos 27 anos de vida de Amy, seu legado e sua personalidade foram muito mais complexos daquilo que foi apresentado em tela. Com um roteiro chapa-branca, o filme mostra o pai da cantora como um cara que se preocupava com ela e o esteio que a sustentava, em vez de um homem que fazia vista-grossa para o vício em drogas e mais interessado nos ganhos financeiros que ela poderia gerar.

    Outros pontos que incomodam é a pouca participação da mãe da cantora, que aparece em apenas duas cenas e falando apenas palavras como “eu te amo”. No lugar da mãe, está mais presente sua avó, Cynthia Winehouse, a Nan (Lesley Manville), uma conceituada cantora de jazz que teria sido a responsável por fazer pela primeira vez o mega coque beehive nos cabelos da neta, que se tornou sua marca registrada.

    Num esforço para não manchar a reputação da artista além do limite, as deploráveis cenas que ela protagonizou publicamente foram atenuadas. A overdose que ela sofreu em 2007, por exemplo, não é mostrada. A identidade dos cantores da banda, suas interações no estúdio e todos os bastidores das gravações são ignorados, como se os incríveis hits gravados por Amy tivessem surgidos num passe de mágica.

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    Ao final, Amy surge limpa e num diálogo com o pai, enquanto bebe um gole d’água, diz que tudo o queria era um drink decente. Sua morte não é mostrada e a famigerada tela preta se encarrega de dizer que Amy, após uma recaída de álcool, bebeu até morrer, aos 27 anos. Dado a incrível história de Amy Winehouse, Back to Black poderia ter sido uma cinebiografia sobre uma cantora que viveu intensamente a vida e sua música, mas acabou contando uma história banal e sem apelo algum.

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