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O Som e a Fúria

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
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Em ótimo novo disco, Billie Eilish fala de amor por mulheres e maturidade

Disco explora a sexualidade da cantora de maneira mais íntima e direta e transita por múltiplos gêneros musicais com destreza e sofisticação

Por Thiago Gelli Atualizado em 16 Maio 2024, 15h44 - Publicado em 16 Maio 2024, 15h11

Billie Eilish chegou ao topo de sua indústria com uma marca inconfundível, apostando em canções melancólicas sussurradas, olhar cabisbaixo e visuais marcantes que, entre outros temas, ecoavam a depressão na adolescência, mazela de boa parte da Geração Z. Em menos de uma década, ela já pode dizer que chorou piche e que se cobriu de aranhas para gravar vídeos com milhões de visualizações; que ocupou a parada de discos mais vendidos dos Estados Unidos por mais de 200 semanas e que se tornou a pessoa mais jovem a conquistar dois troféus do Oscar por canções feitas para Barbie e 007. Sem recorrer à estética mais obviamente comercial, ela evitou ser enlatada pela fábrica de popstars e manteve liberdade criativa — mas, no caminho, pouco cantou sobre prazer e muito foi pressionada a se tornar uma representante de sua geração e público, cobrança comum que tende a abafar o som da música. A partir de todas essas experiências, ela se juntou novamente ao irmão e fiel produtor Finneas e compôs as dez canções inéditas de seu novo álbum, Hit Me Hard and Soft (“me bata forte e leve”, em tradução livre), com lançamento marcado para a meia-noite de sexta-feira, 17 de maio.

 

Assertiva, ela negou prelúdios. Nenhuma faixa do álbum foi lançada como single, decisão que a cantora justifica por querer que a coletânea seja ouvida em ordem como “uma família”, escolha que faz sentido — se não pela explicação redundante do significado de “álbum”, pelo efeito de surpresa tecido por Eilish. Autoconsciente, a cantora constrói seu novo disco como desconstrução da própria imagem, sintoma de amadurecimento pessoal que provoca o artístico. O resultado é uma armadilha musical certeira que começa em lugar seguro — Skinny, uma esperada canção vagarosa sobre a via crúcis da fama — e então parte rumo a experimentações vocais e melódicas cada vez mais interessantes. 

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As temáticas, por si só, já são dignas de burburinho. Logo na segunda canção, Lunch, Eilish canta sobre o desejo insaciável que nutre por outra mulher, franqueza sobre a própria sexualidade que nunca havia demonstrado da mesma forma. O assunto volta em outros pontos do álbum, junto a suas divagações sobre a própria saúde mental, mas a música se recusa a ser reduzida a especulações sobre a vida pessoal da artista, ao interesse voyeurístico ou a mensagens simples. A partir do pop com tendências alternativas pelo qual é conhecida, a cantora monta um pot-pourri com influências do soul, hip hop, folk pop e eletrônica, sem medo de trocar a chave de uma música para a outra — ou até mesmo em uma faixa apenas, assegurando que o repertório estimule mais o ouvido que manchetes.

Em L’Amour de Ma Vie, por exemplo, uma batida simples dá vazão a um refrão agitado que evoca ao soul radiofônico de Alicia Keys e Sara Bareilles quando, de repente, todo o paradigma orgânico é trocado por sintetizadores e modulação vocal robótica que remetem a um techno em Berlim — capital alemã onde a cantora diz ter enfrentado pensamentos suicidas, experiência vagamente narrada em uma das faixas seguintes, Bittersuite. Na próxima, The Diner, sua atitude muda para uma súplica sedutora ritmada por grave urbano e no encerramento, Blue, uma base de indie rock arremata as sensibilidades cantadas até então, antes que batidas eletrônicas e violinos se apoderem da faixa. A versatilidade ecoa a própria instabilidade da rotina e mente de Eilish, mas é mais poderosa por evidenciar o domínio que a artista tem da música, dona de uma elasticidade vocal e dotes interpretativos para se virar em qualquer molde.

Conciso, o trabalho também não exagera, nem recorre a tendências obviamente reprodutíveis da indústria — sem faixas curtas idealizadas para inflar números de reprodução ou refrões repetitivos pensados para o TikTok. Com Hit Me Hard and Soft, Eilish prova não ser uma mera iguaria do império fonográfico americano, mas uma de suas mentes mais ricas, do tipo que assume os riscos que outros emularão após sucesso comprovado. 

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De bônus, a vulnerabilidade que a consagrou permanece no cerne do primor, necessária para que ela encare com franqueza as contradições de sua figura: entre o sucesso milionário e a lamúria inevitável; o hedonismo e a disciplina da fama; os interesses de mercado e sua sede por experimentação. Em The Greatest, a cantora questiona, incerta, se sua paciência e admiração são suficientes para assegurar o amor de um parceiro distante. O conflito é compreensível — no mundo do amor, afinal, não existe unidade de medida ou esforço comprovável. Para a sorte do público, por outro lado, o cuidado de Eilish para com sua outra grande paixão — a música — é claro, gritante e contagiante.

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