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O Som e a Fúria

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
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Como um cantor gago e uma banda da pesada criaram um grande hino do rock

Canção foi lançada no dia 3 de dezembro, há exatos 49 anos

Por Sergio Ruiz Luz Atualizado em 3 dez 2024, 08h28 - Publicado em 3 dez 2024, 08h00

Nos primórdios do rock, as letras eram de uma profundidade de fazer uma formiga atravessar um riacho com águas pelas canelas. “Você pode fazer qualquer coisa, mas não pise nos meus sapatos azuis de camurça”, cantava Elvis Presley em Blue Suede Shoes. Enquanto isso, Chuck Berry declarava-se por uma adolescente em Sweet Little Sixteen: “Pequena e doce de dezesseis, ela tem corpão violão, vestido apertado e batom”. Outro pioneiro, Little Richard, preferiu investir em Tutti-Frutti numa onomatopeia, que se tornou famosa, uma espécie de grito primal criado para emular o som de uma bateria: “Womp-bomp-a-loom-op-a-womp-bam-boom”. Garotas, roupas e energia de sobra para curtir a vida adoidado eram embaladas por três acordes — assim estava feita a festa. 

As dores existenciais e incertezas da juventude só começaram a ser retratadas com uma música lançada neste dia 3 de dezembro, há exatos 49 anos. A canção revolucionária fez isso de uma forma extremamente original. My Generation (minha geração), a obra em questão, do conjunto inglês The Who, virou um hino definitivo graças à sacada do vocalista Roger Daltrey, que cantou gaguejando partes da letra que continham versos como “prefiro morrer a ficar velho”. Dessa forma, encarnou um adolescente típico, cuspindo bravatas e, ao mesmo tempo, demonstrando a insegurança típica da idade. Representou o primeiro hit para a banda que formou ao lado de Beatles e Rolling Stones a santíssima trindade do rock da Inglaterra. Confira aqui My Generation:

Do ponto de vista harmônico, My Generation é uma canção extremamente simples. Trata-se de um jorro de potência sonora tocado em dois acordes, Sol e Fá, ao ritmo da bateria furiosa de Keith Moon. O grande toque de mestre ficou por conta de outra inovação: um grande solo de contrabaixo elétrico se destaca em meio à canção, algo que ninguém havia feito até então no rock. A obra era de John Entwistle, um músico que se tornou referência para todas as gerações posteriores de baixistas.

O The Who ficou grande a partir de My Generation. Ao longo da carreira o grupo fez da destruição de instrumentos no palco outra de suas marcas registradas. Criou também o conceito de ópera-rock com Tommy e sobreviveu a duas catástrofes. O baterista Keith Moon morreu de overdose aos 32 anos, depois de ter ingerido mais de três dezenas de cápsulas de remédios controlados. Entwistle teve um infarto fatal em 2002. Estava com 57 anos e não resistiu a uma noitada regada por doses de cocaína, em companhia de uma prostituta num hotel em Las Vegas. Impossível uma morte mais rock’n’roll que essa.

Roger Daltrey e o guitarrista Pete Townshend foram levando a banda adiante e há rumores de que estarão em ação de novo em uma temporada de despedida do The Who em 2025. Roger está com 80 anos, enquanto Pete tem 79.

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