Nos últimos seis anos, Beyoncé mirou todas as suas armas na produção de álbuns conceituais. Desse esforço vieram trabalhos grandiosos que, embora tivessem lá suas canções dançantes – soavam mais como um manifesto que música pop, mas que lhe renderam um merecido lugar no panteão dos artistas capazes de inovar sem se desprender da realidade. Os exemplos mais notórios foram a trilha sonora do filme O Rei Leão (2019) e o álbum visual Black is King (2020), disponível apenas para assinantes da Disney+, e o álbum Everything is Love, em parceria com o marido Jay-Z, sob o nome de The Carters. O novo lançamento, o sétimo álbum de estúdio, Renaissance, que chega hoje em todos os serviços de streaming, é um bem-vindo retorno às pistas com referências diretas aos hits que bombaram nas baladas dos anos 1990 e 2000. Embora não seja um álbum visual ou conceitual, todas as músicas já ganharam videoclipes e estão disponíveis em seu canal no YouTube. Beyoncé avisou ainda que o álbum é o primeiro de uma trilogia.
A primeira faixa divulgada pela artista já indicava o que viria por aí. Em Break My Soul ela sampleou um dos clássicos das pistas de dança dos anos 1990, Show Me Love, de Robin S., com vocais de Big Freedia, levando muitos fãs brasileiros a compararem com a coletânea farofa Summer Eletrohits. Mas o disco vai além e sobram até referências ao Miami Bass, ritmo que influenciou o funk carioca. Na música America Has A Problem, o batidão do grave parece ter saído de uma favela carioca, remetendo ao funk melody que fez a cabeça dos brasileiros também nos anos 1990, mas o batidão veio mesmo do rapper de Atlanta, Kilo Ali, na música Cocaine. Uma das faixas mais divertidas, no entanto, é Summer Renaissance, que sampleia I Fell Love, de Donna Summer, dos anos 1970. Como resultado, Beyoncé dá uma guinada no que vinha fazendo nos últimos anos, entregando um disco perfeito para a retomada da vida normal.
Não por acaso, em uma declaração postada em seu Instagram, a artista explicou que o álbum foi composto durante a pandemia. “Me permitiu um lugar para sonhar e encontrar uma fuga durante um período assustador para o mundo”, escreveu. “Minha intenção era criar um lugar seguro, um lugar sem julgamento. Um lugar para ser livre de perfeccionismo e pensamento excessivo. Lugar para gritar, soltar, sentir liberdade. Foi uma bela jornada de exploração”. O disco, no entanto, já havia vazado na internet dois dias antes. Na mesma declaração, a cantora agradeceu aos fãs leais que não ouviram as versões piratas e aguardaram o lançamento oficial.
Se nos últimos trabalhos ela abordava temas sociais e urgentes, como feminismo e racismo, em Renaissance, ela quer apenas celebrar. O álbum não se encaixa em nenhuma tendência musical atual. Ele simplesmente é. Eis o poder de Beyoncé.
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