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A saga do ex-chofer que virou midas das exposições no país

Rafael Reisman tornou-se produtor de mostras imersivas de sucesso e acaba de arrematar relíquias de Freddie Mercury

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 09h45 - Publicado em 1 out 2023, 08h00
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  • Em meados de agosto, a casa de leilões Sotheby’s ofereceu um coquetel em Londres para exibir centenas de peças do cantor Freddie Mercury a possíveis compradores. Entre eles, estava o brasileiro Rafael Reisman, de 53 anos. Num certo momento, o estranho no ninho conseguiu se aproximar de Mary Austin, herdeira de Mercury — e perguntou qual item da memorabilia do cantor ela achava mais importante. Disfarçadamente, Austin apontou para um terno rosa usado pelo músico no clipe de The Great Pretender. Reisman sorriu e anotou a preciosa dica — afinal, ela havia sido namorada de Mercury e, segundo o próprio, a única mulher que amou na vida. Dona do incrível acervo desde a morte do cantor, em 1991, Austin decidiu vendê-lo num leilão sem precedentes no rock e reverter parte da renda para instituições que ajudam vítimas da aids, doença que vitimou o ex. Dali a alguns dias, quando o pregão finalmente ocorreu, lá estava Reisman — que arrematou o terno rosa favorito de Austin. Mas essa nem foi a peça mais simbólica e valorizada que adquiriu: em parceria com um grupo de investidores estrangeiros, ele comprou o inconfundível conjunto de capa e coroa usado por Mercury nos shows, num total equivalente a 6 milhões de reais.

    ÍCONE - O cantor, no auge: agrado à herdeira para arrematar as relíquias
    ÍCONE - O cantor, no auge: agrado à herdeira para arrematar as relíquias (Ilpo Musto/Shutterstock)

    O sucesso no leilão joga luz sobre uma figura em franca expansão nos bastidores do showbiz nacional. Avesso aos holofotes da fama, Reisman diz que a compra não é um mero capricho de fã, e sim investimento num negócio que tem se mostrado lucrativo: as mostras imersivas. “Eu sabia que sem a capa e a coroa não conseguiria fazer uma exposição e estava disposto a pagar o preço que fosse para tê-las”, afirma. Reisman sabe do que está falando: nos últimos anos, ele se tornou um dos maiores produtores desse tipo de exposição no país, com mostras de imagens em alta resolução que vão de quadros de Van Gogh ao acervo de Elvis Presley e à história da Nasa.

    Freddie Mercury: A biografia definitiva

    A trajetória do empresário é curiosa. Brasileiro de origem judaica, ele se mudou nos anos 1980 de Brasília, onde nasceu, para Israel. De lá transferiu-se a seguir para Los Angeles, com o sonho de gravar um disco com sua banda de rock, mas o grupo rompeu antes de chegar ao estúdio. Sem ter onde morar, Reisman diz ter dormido num ponto de ônibus na cidade, até conseguir emprego como mordomo de um casal de produtores gays. Foi então que se deu o lance crucial de sua trajetória: quando Roberto Medina, criador do Rock in Rio, foi para lá negociar com artistas para a segunda edição do festival, em 1991, Reisman foi contratado para ser seu motorista e tradutor — e assim conheceu os bastidores da produção de grandes shows.

    DISCÍPULO - Nos anos 1980, com Medina: ele usou o Rock in Rio como trampolim
    DISCÍPULO - Nos anos 1980, com Medina: ele usou o Rock in Rio como trampolim (./Arquivo pessoal)
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    Com faro afiado, ele pediu certo dia a Medina o direito para fazer e vender fotos do público no Rock in Rio seguinte. “Ele não sabia como eu poderia ganhar dinheiro com isso e me vendeu a exclusividade por 1 dólar”, lembra. Reisman, então, procurou a Polaroid e a empresa cedeu máquinas e milhares de filmes para fazer as fotos — vendidas ao público pelo equivalente a 3 dólares. É o tipo do negócio que parece jurássico na era digital, mas Reisman ganhou na época cerca de 80 000 dólares e voltou para Los Angeles, onde ficaria até os anos 2000. De volta ao Brasil, organizou o festival Brasília Music Festival, um dos maiores da capital federal. Em 2005, ainda ilustre desconhecido, chamou a atenção com uma apresentação de Lenny Kravitz na Praia de Copacabana.

    Funko Pop! Freddie Mercury vestido de rei

    Em 2010, cansado de trabalhar com shows, ele visitou Graceland, a mansão de Elvis Presley em Memphis, nos EUA, e teve a ideia de criar uma mostra imersiva com as peças do rei do rock. Para isso, teve de convencer a viúva, Priscilla Presley, a liberar o material. E conseguiu: ele fez a exposição sobre Elvis em São Paulo, em 2012, na primeira e única vez que os 500 itens saíram de Graceland, atraindo 150 000 pessoas. Com a expertise, Reisman passou a fazer mostras como a de Van Gogh, que já atraiu mais de 1,2 milhão de pessoas — e que acabou de estrear uma nova versão em 8K em São Paulo e Maceió, usando equipamentos de projeção de última geração. Sempre em sociedade com o grupo DCSET, de Dody Sirena, ex-empresário de Roberto Carlos, já explorou de Frida Kahlo a Banksy.

    IMERSIVA - A exposição de Van Gogh: evento que já atraiu 1,2 milhão de pessoas
    IMERSIVA - A exposição de Van Gogh: evento que já atraiu 1,2 milhão de pessoas (./Divulgação)
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    Vincent Van Gogh: The Complete Paintings

    No leilão de Freddie Mercury, Reisman adquiriu roupas, sapatos, acessórios, fotografias e a coleção de LPs do músico. Seu próximo desafio é convencer a banda a liberar as músicas e obter autorização de Mary Austin para usar a imagem do cantor em uma mostra. Ao se aproximar da herdeira dele no leilão, Reisman já deu um passo. O showman das grandes exposições não brinca em serviço.

    Publicado em VEJA de 29 de setembro de 2023, edição nº 2861

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