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Gleisi Hoffmann será presidente dos Estados Independentes do Sul?

Quais as consequências práticas de um movimento separatista no Brasil?

Por Maicon Tenfen Atualizado em 9 out 2017, 11h26 - Publicado em 9 out 2017, 07h09

Sou catarinense. Nasci no interior do Estado e moro há 23 anos em Blumenau, onde ocorre a Oktoberfest. É por isso que conheço o Sul é o meu país de perto, um movimento mais antigo do que podem supor os leitores de primeira hora.

No princípio dos anos 90, quando estudava no Ensino Médio, fui levado com a turma para uma palestra no centro da minha cidade natal. Todos os estudantes do período noturno estavam lá para ouvir um sujeito de gravata explicar por que seria justo que os três estados do sul se separassem do resto do país.

O argumento central continua o mesmo: a riqueza produzida por aqui é entregue à União através de impostos extorsivos que não retornam em forma de investimento. Lembro bem que o palestrante se esforçou para adaptar o discurso a uma linguagem mais compreensível pelos jovens:

– Trocando em miúdos, rapaziada, nós trabalhamos e os nordestinos pulam o carnaval!

Teve gente que riu, mas muitos não engoliram a piadinha porque farejaram a malícia oportunista que ela continha.

Na hora das perguntas, um professor de geografia mais antenado confrontou o palestrante com o Artigo I da Constituição Federal de 1988, que define o Brasil como uma república federativa “formada pela união indissolúvel dos Estados e municípios e do Distrito Federal”.

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E foi mais longe, o professor:

– Haveria a possibilidade real de uma separação sem que para isso fosse necessário um levante armado?

O palestrante desconversou, mas não conseguiu conter o mal-estar que se espalhava entre o público.

– Levante armado?

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– Como assim, levante armado?

– Que porra é essa?

Muitos moleques de 15 e 16 anos se recusaram a assinar a lista de presença. De alguma forma entenderam que um movimento separatista não tinha a mesma inocência de um abaixo-assinado para salvar as baleias no outro lado do mundo.

É claro que o problema da corrupção também entrou na palestra, tema recorrente do movimento ao longo dos anos. Era como se todos os políticos do sul fossem corretos e competentes, ao passo que os demais, representados pelo genérico “Brasília”, seriam os únicos responsáveis pelo desvio ou má gestão das verbas que deveriam chegar às nossas estradas, escolas e hospitais.

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Lamento lembrar aos militantes que o roubo também é abundante nos Estados e prefeituras do sul. A Operação Tapete Negro, que teve repercussão nacional, é apenas um exemplo do que já aconteceu em cidades como Blumenau. Queiram ou não, votamos tão mal quanto os eleitores de qualquer região, haja vista a qualidade dos nossos próprios representantes federais, muitos envolvidos em escândalos de corrupção como a Lava-Jato.

De boa, minha gente, tô fora.

A remotíssima possibilidade de que essa brincadeira possa se transformar numa repetição farsesca da Farroupilha, ou seja, um confronto entre o sul e o governo central que terminou em nada, já revela a dimensão utópica e equivocada do movimento. Eu não daria um único grito para criar um país e entregá-lo de bandeja às oligarquias do sul.

Já pensaram no que aconteceria se alguém como a paranaense Gleisi Hoffmann se tornasse presidente? Ou senadora? Ou mesmo deputada?

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Além do mais, convenhamos: livrar-se da “parte podre” em nome de supostos ganhos locais é uma ideia sem a menor simpatia. O único futuro dessa aventura separatista é fortalecer o estigma – totalmente injusto – de que os sulistas são preconceituosos, racistas e xenófobos. Queremos o que todos querem: justiça e prosperidade. Se não for possível no Brasil como um todo, não será num dos seus fragmentos.

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