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Virada de Temer: de tocador das reformas a “Cabo Tenório”

Temer virou uma espécie de “Cabo Tenório” – o maior inspetor de quarteirão, do famoso forró de Jackson do Pandeiro.

Por Vitor Hugo Soares
Atualizado em 24 fev 2018, 16h00 - Publicado em 24 fev 2018, 16h00
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  • Coragem. Vocação. Talento. Caráter. Sorte… É cada vez mais evidente, e a brusca guinada de rumo do governo do PMDB, – com a intervenção e a escolha de um general de quatro estrelas para mandar no Rio de Janeiro, seguida da mudança de direção do debate nacional –, só acrescenta novos sinais de que o habitante atual do Jaburu é carente até do cacoete de estadista. O parâmetro do jornalista para a avaliação é o dos cinco primeiros mandamentos do referencial Decálogo de Ulysses Guimarães.

    Assim, não surpreende a virada de Michel Temer. Abriu mão de seu propalado projeto prioritário na política, gestão e marketing, de “audaz reformista” – ao ver-se ameaçado de sofrer fragorosa derrota na Câmara, em eventual votação de seu plano mais ambicioso, a Reforma da Previdência. O que causa espanto – em face do imponderável que está a caminho, depois da intervenção, aprovada docilmente pela Câmara e pelo Senado – é ele ter jogado tudo para o alto, para virar, no começo de ano eleitoral, uma espécie de “Cabo Tenório” – o maior inspetor de quarteirão, do famoso forró de Jackson do Pandeiro.

    No baú da memória, a lembrança que mais dói está em anos loucos, no Uruguai, modelo de democracia na América do Sul, por onde andei, por quase duas décadas, quando trabalhei no Jornal do Brasil. Da primeira vez, com o advogado Pedro Milton de Brito, ex-presidente da seccional baiana da Ordem dos Advogados do Brasil, ex-conselheiro federal da OAB, inimigo temido e irreconciliável de corruptos e corruptores (encastelados no poder público ou no setor privado). Saudosa e exemplar figura de defensor das liberdades e dos direitos humanos na Bahia e no País.

    Ninguém me contou, estive lá, eu vi. Repito, a exemplo de Sebastião Nery, na apresentação do livro que publica o Decálogo do Estadista. Em um desses períodos cruciais da vida do continente, quem governava o Uruguai era Juan Maria Bordaberry, descendente basco-francês , eleito democraticamente, em 1972. Mas, cúmplice e voluntariamente (a pretexto de enfrentar uma crise econômica e manter o mando político), negociou espaços para a “aliança de poder cívico-militar”, como se dizia então.

    Não descerei a detalhes sobre o desastre. Só relembro que os militares mantiveram nas sombras o presidente, durante a mal camuflada instalação de um dos mais violentos e perversos regimes já vividos na bacia do Rio da Prata. Resumo do forró: depois de insucessos, desencontros e atropelos, – os militares decidiram destituir o “rancheiro” do governo de fachada e trocaram-no por outro civil, Alberto Demicheli, enquanto a “Suíça da América Latina” seguiu afundando. A democracia voltou ao Uruguai em 1985. Em 2006, Bordaberry foi condenado a 30 anos de prisão. Morreu pouco depois, em casa, em Montevidéu, aos 83 anos, cumprindo prisão domiciliar.

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    Isso nada tem a ver com a intervenção no Rio, nem com o mandatário brasileiro, dirão alguns. Mesmo que Temer já participe de reunião de comandos militares no Ministério da Defesa, em Brasília. E que Mauro Lopes, o segundo de Braga Neto na ocupação, já seja manchete de jornal, chamado de “um general com a faca nos dentes”. É preciso desenhar?

    Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitor_soares1@terra.com.br 

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