Jair Bolsonaro amanheceu a terça-feira admitindo que poderia desistir da indicação do filho Eduardo para a embaixada do Brasil nos EUA para não submetê-lo a “um fracasso”, diante do cenário ainda incerto em relação a seu nome no Senado. À tarde, o próprio Eduardo negou a possibilidade e disse que sua indicação estava mantida. Mostrando que aquilo que o filho diz está falado, o presidente amanheceu a quarta-feira recuando do recuo: “Não tem recuo. O nome do Eduardo vai ser apresentado ao Senado”. Então pronto.
Só falta combinar com os russos do Senado – e é bem possível que a partida acabe em vitória do time dos Bolsonaro. O que se comenta nos gabinetes da Casa, porém, é que poderá ser mais uma daquelas vitórias de Pirro, uma batalha que será vencida mas esgotará todas as forças e recursos do exército vencedor, após a qual não sobrará nada.
Não há perspectiva de final feliz no episódio da indicação de Eduardo Bolsonaro para Washington. Se perder, Bolsonaro será submetido a um imenso desgaste, uma derrota política que pode representar, para ele, o início do fim.
Por outro lado, para garantir 41 votos para aprovar o nome do filho na votação secreta no plenário do Senado, Bolsonaro terá que dar os anéis e os dedos. Haja emendas, recursos para os estados, cargos federais e sabe-se lá o que mais para entrar na negociação – como sempre ocorreu e continua ocorrendo nessas horas. O desgaste será inevitável quando todo mundo perceber que Bolsonaro está fazendo tudo o que disse que não faria em termos de fisiologismo para aprovar a nomeação de Eduardo.
Não por acaso, o presidente da República retirou as indicações que havia mandado ao Senado para preencher duas diretorias do Cade com nomes técnicos escolhidos pelos ministros Paulo Guedes e Sérgio Moro. As indicações teriam sido dadas ao presidente da Casa, Davi Alcolumbre, que prometeu-as a senadores da bancada do MDB. Alcolumbre, aliás, será importante aliado dos Bolsonaro na causa, pois já garantiu uma boa quantidade de recursos para seu estado, o Amapá, e agora é amigo do Planalto desde criancinha. Muito mais virá, para ele e para outros.
O que muita gente pergunta é por que Bolsonaro não usa essa energia toda para convencer os senadores a aprovar projetos importantes para a economia e o governo. Com tanto empenho, quem sabe a reforma da Previdência não tramitaria mais rapidamente? Ou até, quem sabe, não sairia uma reforma tributária, ou o novo pacto federativo pregado por Paulo Guedes?
Para o presidente, porém, essas prioridades parecem vir atrás do filho. E, como quem levou a facada e se elegeu foi ele, que é quem manda porque não é um presidente banana, o mundo político vai assistir calado enquanto Bolsonaro leva o país de volta à condição de república bananeira.