O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) atua, há meses, no papel de um dos mais estranhos e enigmáticos aliados do governo. Isso vem de longe, mas ficou evidente e explosivo depois que, com ajuda decisiva do presidente Jair Bolsonaro, e da tropa então unida na bancada do PSL (hoje em desalinho), emplacou mais um período no comando da Câmara. Ultimamente, Maia avança além de curva (para usar a expressão do sumido ex- presidente do STF, Joaquim Barbosa), ao montar, no começo da semana, um acampamento em Jaboatão dos Guararapes, simbólica área metropolitana de Recife, no coração do Nordeste – de governos estaduais “de esquerda” conflagrados contra o bolsonarismo “de direita” – e de lá atirar contra o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Instituci onal (GSI), antigo instrutor e atual amigo in pectore do mandatário.
Mal (ou bem?) comparando, o homem de proa no leme de um dos navios pilares da política nacional, se parece, às vezes, com o enfezado personagem da propaganda do sal de frutas ENO, nos Anos 60, que a cada situação de mudança, à sua frente, reagia apelando para a expressão que viralizou na época: “Eu sou do contra”. Tem sido assim desde quando o tempo começou a esquentar entre os poderes, a partir da apresentação dos projetos de reforma da Previdência, do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do pacote anticrime, do ministro da Justiça, Sérgio Moro. Maia bateu-se contra estes dois titãs do governo, em seus primeiros testes de força e resistência.
Agora, sempre dando a impressão de ter como foco, de seus disparos retóricos, o presidente, ou um de seus três filhos com mandatos políticos – Eduardo, deputado; Flávio, senador e Carlos, vereador, todos com montanhas de votos no embornal –, o presidente da Câmara decidiu testar pontaria e poder com um alvo militar de peso, força e prestígio, pessoal e profissional, de largo alcance. Ao lado disso, Augusto Heleno é, reconhecidamente, bom de briga e de combate. Com direito a Capacete Azul, da ONU, por sua relevante e construtiva atuação, em missão de Paz, em tempos temerários no Haiti.
Osso duro de roer, já se vê, em qualquer campo de luta, militar ou política. Ainda assim, futucado com vara curta pelo incomodado aliado do DEM que, talvez cansado de apanhar e receber desaforos da família Bolsonaro, partiu para cima do general, a título de opor-se ao suposto desdém do ministro do CGI , em face das bravatas de Eduardo Bolsonaro na entrevista a Leda Nagle, no tocante ao malsinado AI-5 de amarga memória. Ferida autoritária grave, que segue em carne viva, apesar do tempo e da “anistia ampla, geral e irrestrita”. E parecemos retornar ao ambiente em que o monstro surgiu no ano que não terminou: as bravatas, os estapeamentos, as provocações, os envenenamentos retóricos de parte a parte, como no tempo do AI-5, o original.
No dia 4, o presidente da Câmara amanheceu em Pernambuco, e de lá apontou o bacamarte para o general em Brasília: “É uma cabeça ideológica. Infelizmente o general Heleno, o ministro Heleno virou um auxiliar do radicalismo do Olavo (de Carvalho). Uma pena que um general da qualidade dele tenha caminhado nesta linha”. Ponto.
Agora, uns jogam panos quentes para abafar o fogo, outros jogam mais gasolina para aumentar o incêndio. Resultado? Responda quem souber.
Vitor Hugo Soares é jornalista, e editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail:vitors.h@uol.com.br