Só é possível para imaginar (ou talvez nem isso) como se sentiam os delegados da Convenção da Filadélfia em 1787. Contra as expectativas, haviam saído vitoriosos de guerra pela independência contra a maior potência da época, a Inglaterra. Conquistaram a independência. Agora precisavam inventar um país a partir de uma coleção de ex-colônias, representadas por ex colonizados.
O grande desafio era escolher a forma e criar as fundações para um novo sistema de governo. Não bastava remendar antigas formulas. A situação demandava a criação de novo sistema, baseados em novos ideais e ideias, que poderiam sustentar uma nova nação. Romper com o passado era necessário.
Demorou e foi difícil chegar a um acordo. Mas ao fim de 5 meses, escreveram a constituição que (com algumas emendas) vigora até hoje nos EUA. Estavam lançadas as bases para a criação daquela que viria a ser a maior potência do mundo.
Dizem que Benjamin Franklin, um dos participantes da convenção, ao sair do prédio após seu encerramento, foi interpelado por uma senhora que esperava a porta do prédio. Ela perguntou o que havia sido decidido: república, ou simplesmente uma não monarquia. Franklin, em seu estilo, respondeu República, minha senhora. Isso se fomos capazes de cuidar bem dela.”.
Nem bem havia sido criada, a primeira democracia do mundo já tinha noção de sua fragilidade. Seus criadores reconheciam, sem qualquer constrangimento, a necessidade de trabalhar para consolidar e manter aquilo que haviam conquistado. Humidade esta que talvez nós devêssemos copiar.
Democracia somente sobrevive com boa governança. E através de valores que possam institucionalizar seus princípios básicos. Sem isso, ela não sobrevive. Adoece e morre. E do seu corpo decomposto nasce populismo, autoritarismo e outras formas de sistema político. Todas possíveis e, por vezes, até viáveis. Mas sempre indesejáveis.
Quando a descrença bate, o populismo aparece, a desilusão prevalece, e a corrupção predomina, a democracia adoece. Nações que se perdem a fé nas instituições se tornam tão corruptas que precisam de autoritarismo, já que são ou se tornam incapazes de qualquer outra forma de governo.
Democracia não é o fim da história, nem forma inevitável de evolução humana. Ao contrário. É escolha civilizatória consciente. Um entre vários modelos possíveis. Precisa e deve ser cuidada para não morrer. Está, por definição, sempre sob ameaça.
Elton Simões mora no Canadá. É President and Chair of the Board do ADR Institute of BC; e Board Director no ADR Institute of Canada.É árbitro, mediador e diretor não-executivo, formado em direito e administração de empresas, com MBA no INSEAD e Mestrado em Resolução de Conflitos na University of Victoria. E-mail: esimoes@uvic.ca .