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Porque ontem foi sábado, e Bolsonaro é assim todo dia

Passe álcool gel nas mãos antes de votar

Por Ricardo Noblat Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 mar 2020, 15h40 - Publicado em 22 mar 2020, 08h00
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  • À falta das obrigações que o cargo lhe impõe em dias úteis, confinado no Palácio da Alvorada onde comemorou 65 anos de idade na companhia da mulher e dos filhos, o presidente Jair Bolsonaro dedicou-se, ontem, a fazer o que melhor sabe: fustigar adversários, cutucar aliados e dissertar sobre o que não entende.

    Logo na semana em que os profissionais da saúde começaram uma campanha onde pedem: “Nós estamos aqui por vocês, por favor fiquem em casa por nós”; Bolsonaro disse não ver razão para que se impeça a livre circulação de pessoas sadias que possam trabalhar. Reclamou do fechamento de shoppings e de templos.

    A Constituição garante a realização de cultos, citou. “Tem gente que quer fechar as igrejas, o último refúgio das pessoas”, irritou-se. “Lógico que o pastor vai saber conduzir seu trabalho, vai ter consciência, vai decidir lá”. O Conselho Mundial das Igrejas sugeriu o fechamento dos templos neste fim de semana.

    De bermuda, camiseta da Seleção e chinelos, dirigido por seus três filhos mais velhos (Flávio, Carlos e Eduardo) que se encarregaram da tarefa, Bolsonaro gravou um vídeo postado nas redes sociais para anunciar que o Exército fabricará o Reuquinol, remédio que “poderá evitar um contágio mais rápido do coronavírus”.

    Perdeu mais uma oportunidade de ficar calado. Obrigou o número dois do Ministério da Saúde a repetir na televisão que não existe ainda nenhum fundamento científico de que o Reuquinol impeça o contágio da doença. O remédio desapareceu de muitas farmácias brasileiras desde que Donald Trump falou a seu respeito.

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    Apenas pessoas com receita para tratamento de enfermidades como malária, lúpus e artrite reumatoide podem comprar o Reuquinol. “Ninguém vai poder guardar esse remédio pensando no coronavírus”, apressou-se a explicar João Gabbardo dos Reis, secretário-executivo do Ministério da Saúde.

    Bolsonaro fechou o dia atacando os governadores de São Paulo e do Rio em entrevista à CNN Brasil. Para ele, os governadores que decretaram quarentena extrapolam dando “dose excessiva do remédio e que o remédio em excesso se torna um veneno.” Bem, essa é a sua opinião, mas não a dos especialistas no assunto.

    Empenhado em politizar a discussão sobre o coronavírus, aproveitou para chamar de “lunático” o governador João Doria (PSDB-SP). Queixou-se de que Doria usou o nome dele para se eleger “e está se aproveitando para crescer politicamente”. Sobrou, naturalmente, para Wilson Witzel (PSC), governador do Rio.

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    Bolsonaro não se arrependeu de ter chamado o coronavírus de “gripezinha. Garantiu que sobre 60% dos brasileiros a Covid-19 “não terá efeito algum”. Negou que exista uma crise entre ele e o ministro Luiz Henrique Mandetta, da Saúde. E assim contou o que de fato estaria se passando:

    – Não existe atrito, mas uma conversa entre nós. Mandetta sabe que uma população em depressão perde imunidade e fica mais propensa a doenças.

    Quanto ao impacto da doença na economia, foi vago. Recusou-se a comentar sobre o mini pibinho previsto para este ano de 0,02%, embora “alguns economistas falem de crescimento negativo”. E arrematou: “Minha preocupação é com a vida das pessoas e com o desemprego criado por esses governadores irresponsáveis”.

    Aviso de utilidade pública: Na próxima eleição presidencial, antes de digitar na urna o número do seu candidato, passe álcool gel nas mãos. E vote melhor.

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