Primeiro Bolsonaro negou que o governo tivesse feito um acordo para que o Congresso controlasse 30 bilhões de reais destinados ao pagamento de emendas de deputados e senadores ao Orçamento da União. Mentiu. O acordo foi fechado pelos ministros da Economia e da Secretaria do Governo junto com os presidentes do Senado e da Câmara. E Bolsonaro estava informado disso.
Depois, quando o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, sugeriu a Bolsonaro que jogasse o povo contra os políticos, ele pessoalmente fechou um novo acordo que, desta vez, reduziu para 19 bilhões de reais a verba à disposição do Congresso. Como sua palavra pouco ou de nada vale, assinou um projeto de lei para provar que falava a verdade.
Ontem, véspera de o Congresso votar o que fora combinado, Bolsonaro sugeriu a rejeição do projeto de sua autoria. Em troca, insinuou que poderá apelar para que seus devotos cancelem as manifestações de rua marcadas para o próximo domingo e que terão como alvo o Congresso e a Justiça que só o impedem de governar direito. Como se não fosse ele o principal culpado.
Passou da hora de se levar Bolsonaro a sério. Ele e sua turma acusam o Congresso de querer implantar um parlamentarismo branco, transformando o presidente numa espécie de rainha da Inglaterra que reina, mas não governa. Não há espaços desocupados na política. Quando um se abre, imediatamente é preenchido. Bolsonaro caminha para a irrelevância.
O que pode ser bom ou ruim, porque mesmo irrelevante ele ainda conservará algum tipo de força para fazer mal ao país até o fim do seu mandato. Mas, se ele não sabe governar, ou só saberia nos seus próprios termos – o que significa atropelar os demais poderes à custa do enfraquecimento da democracia -, fazer o quê? Tocar o barco adiante da melhor maneira possível.
A primeira coisa a ser feita é ignorar seus arreganhos e negar-se a fazer seu jogo de distrair o distinto público das questões que de fato importam. Palhaço na porta da Alvorada? Deixem os dois por lá. Anúncio de que será submetido a uma nova operação? Boa sorte, que Deus o proteja. Denúncia de que uma fraude impediu sua eleição no primeiro turno? Cadê as provas? Mostre as provas!
Se elas existirem, não seria o caso de anular a eleição passada e convocar-se outra? Se não existirem… Uma denúncia de tal gravidade, para completar feita no exterior, não configura crime de responsabilidade segundo a Constituição? Nesse caso, não caberia a abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro? Afinal, Dilma Rousseff foi derrubada por muito menos.
Se Dilma pedalou artigos da Lei de Responsabilidade Fiscal, Bolsonaro tenta pedalar o próprio regime sob o qual se elegeu. E não descansará enquanto não conseguir.