Pergunte ao seu coração (por Tânia Fusco)
O Brasil tem 14 milhões de desempregados. Entre maio e setembro, aumentou em 4,1 milhões
Nesse momento, tem gente morrendo de fome no nosso Brasil.
10,3 milhões de brasileiros padecem de fome. Em cinco anos, cresceu em três milhões o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave – fome.
É a tristeza que a sociedade consome,
me diz que não viu?
Quem tem fome, tem pressa e não pode esperar.
A fome é perversa, não dá pra negar.
Quem alimenta esse monstro do mal
é a desigualdade social.
10% dos brasileiros, que têm maior renda no trabalho, ficam com 43% de todos os rendimentos de trabalho do país. 1% com maior rendimento mensal ganha 180 vezes mais do que os 5% de menor renda.
Brancos recebem entre 80 a 70% mais do que pretos e pardos. De 2018 para 2019, os rendimentos dos homens ficaram estáveis, os das mulheres caíram. 34,4 milhões de brasileiras são responsáveis pelo sustento da família.
80% dos mortos pela polícia são negros – 99,2% são homens. Com idades de 15 a 29 anos. Negros são 66,7% da população carcerária. Entre os policiais mortos, 61% também são negros.
Tem barriga vazia fazendo chorar…
O Brasil tem 14 milhões de desempregados. Entre maio e setembro, aumentou em 4,1 milhões o número de pessoas em busca de ocupação no mercado de trabalho, alta de 43% no período.
Mas a cidadania tem uma missão
Fazer esse mundo se mobilizar
Pra nunca mais faltar arroz e feijão.
Só a corrente da dignidade pode mudar essa realidade
e dar um fim nessa situação.
Pergunte para o seu coração e ele vai lhe responder como faz bem fazer o bem e ver o bem prevalecer.
Vem ajudar a renovar a esperança de alguém.
O que é pouco pra você pode salvar quem nada tem.
“Quem tem fome em pressa” é título do samba que puxa a campanha para um Natal Sem fome, deste 2020. Ano atípico em quase tudo, igual na persistente desigualdade social do Brasil, crescente e acentuada nos últimos três anos.
A música é dos compositores Mosquito, Xande de Pilares, Gilson Bernine e Emicida.
Anitta abre o clipe que reúne 28 grandes artistas da música brasileira – Alcione, Caetano Veloso, Chico Buarque, Chitãozinho e Xororó, Criolo, Daniela Mercury, Djavan, Elza Soares, Emicida, Gilberto Gil, Gloria Groove, Ivete Sangalo, Karol Conká, Ludmilla, Luísa Sonza, Maria Bethânia, Mart’nalia, Milton Nascimento, Mosquito, Nando Reis, Negra Li, Rogerio Flausino, Teresa Cristina, Xand Avião, Xande de Pilares e Zélia Duncan.
E assim a dor é estancada. Minha gente, é tão urgente. Chega em todas as quebrada. Uma corrente assim de vários camaradas Pra todo mundo ter uma ceia abençoada. Chegar em todas as famílias. E a luz que brilha É de todos nóiz. Todos nóiz juntos nessa guerrilha. Firmeza, firmão, de coração. Quem tem fome, tem pressa. Então corre irmão. Vamo!
Na década de 1990, quando a fome alcançava 14,8% da população brasileira, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, tornou-se símbolo de cidadania ao liderar a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, movimento de mobilização nacional para combater a pobreza e as desigualdades sociais. O Natal Sem Fome era parte dessa ação.
Hemofílico, Betinho morreu de AIDS em agosto de 1997, mas, já existindo como ONG, a Ação da Cidadania continuou realizando a campanha Natal Sem Fome, que foi interrompida em 2017 e retomada agora.
Em 30 anos, o Brasil até conseguiu redução significativa da fome e da miséria, mas nunca sua completa extinção. Em 2014, segundo estimativas da Organização das Nações Unida para a alimentação e a Agricultura (FAO), o Brasil deixava o Mapa Mundial a Fome, alcançando nível menor do que 5% de Prevalência de Subalimentação, com redução de 84,7% no número de brasileiros sujeitos à fome.
Esses índices significaram a maior redução da fome na história brasileira. Mas restavam ainda 3,4 milhões de brasileiros – 1,7% da população – a ser retirada da situação de pobreza extrema. De lá para cá, tristemente, não houve mais redução, mas crescimento da miséria e da fome, que agora volta a alcançar 10 milhões de pessoas. Gente que a barriga vazia humilha e faz chorar.
Tânia Fusco é jornalista