Até seria cedo. No grande esquema das coisas, 500 anos de história são nada. Passam rápido. Em tese, mal o país mal começou a existir. Mas, tendo começado recentemente a conhecer a vida, já anuncia a partida.
Viveu triunfos passageiros com pretensões enganosas. Hoje está perdido. Descartado como móvel velho. E com poucas esperanças no coração. Sem saber mesmo o rumo que vai tomar.
Não construímos uma nação. Criamos um amalgamado de interesses corporativos protegidos por injustiça, e sustentados por cidadãos, nascidos e por nascer, carregando nas costas fardo que só aumenta.
Criamos uma máquina de moer ilusões, reduzindo ilusões a pó. E transformando sonhos em arrependimentos. De maneira mesquinha, cruel e triste. Se cada decisão, canetada, discussão jurídica sobra nada de construtivo. Só herdamos o cinismo. Até chegarmos ao abismo onde estamos. Que cavamos com afinco todos os dias.
Em cada esquina, cai um pouco a qualidade da vida. Tudo fica mais difícil, mais feio, mais inseguro. Continuando assim, em pouco tempo, a gente nem vai mais reconhecer o lugar de onde viemos.
A gente poderia passar a vida buscando sentido nisso tudo. Até certamente perceber que sentido não há. Existe apenas a consequência de nossas ações coletivas. Talvez cause mesmo horror essa conclusão. Mas ela traz em si a oportunidade de tomar controle do destino. Ninguém merece tanto sofrimento.
É tempo. O país novamente este ano pode decidir entre mudança e aceitação. É uma oportunidade. E como toda oportunidade, pode virar amargura. Mas talvez possa estar grávida de esperança. Não precisamos reviver estes tempos de maldade insolente, envolvidos em confusão eterna e condenados a manipulação.
Com algum esforço, a gente até talvez possa um dia merecer o título de cidadão. Quem sabe a moda pega. E, contrariando expectativas e evidências em contrário, possivelmente meio por acidente, a gente prove que democracia pode começar a funcionar nos trópicos. Certamente pegando no tranco. Bem ao nosso estilo.
Obs: Inspirado em “A vida é um moinho” (Cazuza); “Cuesta Abajo” (Alfredo Lepera & Carlos Gardel); e “Cambalache” (Enrique Santos Discepolo);”Mano a mano” (Carlos Gardel), e outras obras de gente que gostaria que fosse diferente, mas não viu razão para otimismo.
Elton Simões mora no Canadá. É President and Chair of the Board do ADR Institute of BC; e Board Director no ADR Institute of Canada. É árbitro, mediador e diretor não-executivo, formado em direito e administração de empresas, com MBA no INSEAD e Mestrado em Resolução de Conflitos na University of Victoria. E-mail: esimoes@uvic.ca .