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País das carteiradas inventa o fura fila da vacina contra o vírus

A Hora H dos privilegiados

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 22 jan 2021, 08h35 - Publicado em 22 jan 2021, 08h00
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  • Sabe com quem fala? Se souber, denuncie, mas não estranhe o fato de que num país com tamanha concentração de renda os privilégios sejam invocados até na hora de tomar vacina.

    Em pelo menos 12 estados e no Distrito Federal, políticos, empresários e funcionários públicos receberam doses da CoronaVac mesmo sem fazerem parte dos grupos prioritários.

    Há 14,9 milhões de pessoas que precisam ser vacinadas na primeira fase. Por ora, as doses disponíveis só conseguem imunizar pouco mais de 2,8 milhões de pessoas.

    O Ministério Público de cada estado apura se houve irregularidade nas condutas dos fura fila. Em pelo menos duas cidades – Manaus e Tupã, no interior de São Paulo – a vacinação foi suspensa.

    Pessoas ainda morrem em Manaus por falta de oxigênio, mas por falta de vacina não morrerão mais as gêmeas recém-formadas em medicina Gabrielle Kirk Lins e Isabelle Kirk Lins.

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    As duas são filhas de Nilton da Costa Lins Júnior, dono da Universidade Nilton Lins, uma das maiores da cidade. Gabrielle foi contratada pela Secretaria Municipal de Saúde há 4 dias.

    Sua irmã há três dias. Elas tomaram a CoronaVac antes de médicos e enfermeiros de hospitais que enfrentam a pandemia desde o seu início. Comemoraram a vacinação postando fotos no Instagram.

    A Secretaria informou que não houve irregularidade. O prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), baixou uma portaria proibindo que as pessoas façam imagens do momento da vacinação.

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    O governo do Amazonas soltou uma nota oficial esclarecendo que é responsável somente pelo recebimento das vacinas do Ministério da Saúde e distribuição delas às prefeituras.

    Multiplicam-se os casos de fura fila no país. No Amapá, Randolph Antônio Pinheiro da Silva, secretário de Saúde de Serra do Navio, usou seu cargo para ser vacinado contra a Covid-19.

    Em outubro e dezembro passados, ele chegou a duvidar publicamente da eficácia da Coronavac, repetindo os argumentos de Bolsonaro para criticá-la. Deve ter mudado de opinião.

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    O Ministério Público do Piauí instaurou procedimento administrativo em seis cidades para apurar aplicação irregular de doses da vacina contra a Covid-19.

    O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios coleciona vídeos e fotos que denunciam profissionais de saúde que não fazem parte da linha de frente recebendo a vacina.

    Bolsonaro sabe bem que país governa. Diz que não irá se vacinar. Mas não se acanha em valer-se do aparelho do Estado para proteger três dos seus quatro filhos investigados por corrupção.

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