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Os tristes efeitos da miséria

Estamos numa fase quase tão negra quanto a da depressão americana

Por Maria Helena RR de Sousa
Atualizado em 30 jul 2020, 19h42 - Publicado em 24 Maio 2019, 11h01
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  • Ontem, ao ler o artigo da jornalista Rebeca Scatrut neste blog de seu marido, Ricardo Noblat, senti a mesma aflição experimentada ao assistir o filme ‘They shoot horses, don’t they?’, baseado no livro de Horace McCoy e dirigido pelo brilhante Sydney Pollack.

    A história se passa durante a grande depressão americana da década de 30, quando a pobreza e a falta de oportunidades para sair do sufoco fizeram surgir situações dramáticas e deprimentes naquele país que até então era considerado o farol que levava ao paraíso.

    O filme gira em torno de uma dessas situações: a maratona de danças, programa ininterrupto que em vez de girar em torno da alegria que a música e a dança geralmente provocam, gira em torno da tristeza e da desesperança que a miséria da Depressão espalharam por aquele país.

    É, sem dúvida um dos grandes filmes produzidos em Hollywood. Os participantes da maratona, desesperançados e tendo como única ambição o prêmio de 1500 dólares que o par que resista até ao fim essa exaustiva e dolorida maratona receberá. Os maratonistas, cansados, exaustos, fracos, vão largando o salão e no fim, sobram três pares em péssimas condições físicas, sendo que uma das moças, interpretada por Jane Fonda, pede para morrer alegando: “cavalos lesionados nas corridas são mortos, não são?”.

    Estamos numa fase quase tão negra quanto a da depressão americana. Ou talvez mais. O desemprego está num nível indecente. A saúde pública inexiste. A segurança da população é uma farsa. Ande pelas ruas das grandes cidades brasileiras e sinta a miséria que perpassa pelo ambiente.

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    E como se não bastasse essa angústia, leio em nossos jornais sobre um evento macabro que aconteceu em Cuiabá: um desfile de crianças apresentadas ao público como passíveis de adoção. Maquiadas, bem vestidas, como se da realeza fossem, para serem escolhidas como filhas ou filhos por pessoas dispostas a adota-las.

    Quem quer criar e amar uma criança pensa em muitas coisas antes de adota-las. E é bom que pense. Mas se estão bem vestidas, maquiadas, penteadas, perfumadas, serão essas as qualidades que farão a diferença entre uma ou outra criança?

    Desculpe, organizador da Campanha da Adoção, mas será que não houve um engano aí? O desfile era mesmo para adoção?

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    Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa é professora e tradutora, escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005.  

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