A vida do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não está nada fácil. Com 8% nas pesquisas, não oferece, por enquanto, expectativa de poder. Carrega ainda o ônus do desgaste do PSDB, também afetado pela crise ética. E tem o fantasma de Luciano Huck a atormentá-lo, para não falar em Rodrigo Maia.
A receita para reverter o quadro adverso é sobejamente conhecida: tempo televisivo e palanques regionais robustos. Ou seja, alianças amplíssimas.
Não pode se dar ao luxo de ver aliados escorrerem pelos dedos. E muito menos de ter a sua principal base de apoio dividida. Essa base elegeu 80% dos prefeitos paulistas. Mantê-la unida é essencial para Alckmin sair de São Paulo com uma votação massiva capaz de compensar uma possível escassez de voto em outras regiões.
Parece óbvio, mas não é. Os tucanos paulistas querem adicionar mais um problema ao rosário de Geraldo. Pretendem lançar candidato próprio ao governo do Estado, apesar da candidatura natural do vice-governador Márcio França, do PSB.
A tese de dois palanques é uma temeridade. A ruptura do contrato assinado em 2010 e reafirmado em 2014 – quando até os peixes do lago do Ibirapuera sabiam que Alckmin disputaria a presidência e seu vice assumiria o governo na condição de candidato a reeleição – dividirá o mesmo campo e poderá afetar o desempenho eleitoral do tucano no seu bunker.
A quebra de pactos não para por aí. O prefeito João Doria está rompendo o contratado com os paulistanos que votaram nele para um mandato de quatro anos. Não era o acordado querer largar a Prefeitura com apenas um ano e quatro meses, para ser candidato.
O prefeito paulistano rompe também o que fora combinado com Márcio França, que o apoiou em 2016, e com o próprio padrinho e seu grupo político. Mais uma vez a criatura volta-se contra o criador. Teria sido mais sábio Alckmin ter apoiado Andrea Matarazzo em 2016, candidato preparado e natural dos tucanos. Mas preferiu vetá-lo.
Se há alguma chance de o PSB estar no palanque nacional de Alckmin, ela passa pela candidatura Márcio França, detentor de 38% dos delegados na convenção nacional de seu partido. Evidente que sem a reciprocidade do PSDB o vice-governador não se jogará na campanha alckmista com o mesmo ardor. O PSB levará isso à mesa, na hora da difícil negociação nacional.
E como o presidenciável tucano arbitrará a montagem de outros palanques regionais, se não conseguir equacionar nem mesmo sua própria sucessão?
A cabeça de Alckmin é uma caixa de pandora. Ninguém sabe o que ele pensa. É possível que as quatro pré-candidaturas que disputarão a prévia tenham o seu dedo, para mostrar que João Doria não é o candidato natural. Logo…
A confusão tucana está instalada. Com companheiros de partido jogando contra o patrimônio, Alckmin não precisa de inimigos.
Hubert Alquéres é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo