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O que somos e o que podíamos ser (por Roberto Brant)

O país do futuro não chegou

Por Roberto Brant
24 dez 2020, 11h00

O Brasil sempre foi um país um pouco isolado, primeiro por causa da geografia, depois pela barreira da língua e pelas dificuldades econômicas. Desenvolvemos uma economia fechada, com uma ideia subjacente de autossuficiência e pouca abertura para o exterior.

Ainda assim construímos uma nação civilizada, que durante a maior parte do século XX foi das que mais se desenvolveram e que prometiam um futuro brilhante.

O futuro, no entanto, não chegou. Nos últimos quarenta anos crescemos muito pouco e a maior parte de nossa população vive na pobreza ou em condições de vida ainda precárias, apesar de nossa incomparável riqueza de recursos. Nossa sociedade parece viver hoje em um estado de apatia e desalento, fruto da descrença da maioria e da falta de visão e de cultura cívica das elites políticas.

O autoconhecimento é uma capacidade rara, seja nas pessoas, seja nas sociedades. Nunca temos noção clara do que realmente somos. Por isso o olhar alheio sobre nós quase sempre nos surpreende muito.

Nesta semana estava lendo um artigo de um importante jornalista conservador americano, Bret Stephens, no New York Times, em que ele lamentava o declínio da confiança nas pessoas e nas instituições que vem ocorrendo na sociedade americana, especialmente durante a infeliz era Trump.

Na esteira do que pensa a maioria dos cientistas sociais contemporâneos, o articulista acentuava que a confiança social é o mais importante elemento em qualquer sociedade bem sucedida. Nesta altura do artigo ele me causou um choque, quando indicou que sociedades com elevado grau de confiança social progridem em todos os aspectos e citou como exemplo a Suécia e o Canadá, enquanto as que vivem num ambiente de baixa confiança, fracassam. E deu como exemplo destas o Líbano e … o Brasil.

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Eu vivo e reflito durante quase toda a minha existência sobre a vida pública brasileira e confesso que nunca pensei em ver o Brasil equiparado a um país tão belo e tão desafortunado como o Líbano, uma nação devastada por guerra civil, conflitos religiosos e palco dos horrores que afligem o Oriente Médio, que tornam quase impossível o funcionamento de um estado democrático.

Como estrangeiros intelectualmente bem informados podem nos ver dessa maneira, é a pergunta que temos que fazer.

Se pensarmos bem vamos chegar à conclusão de que não é fácil nem trivial compreender o Brasil. Temos um grande território e uma grande população. Nosso território, além da extensão, acumula recursos que faltam à maioria dos países. Temos petróleo, muitos minerais, água doce em abundância, sol, florestas e solos para a agricultura. Nossa população está livre de conflitos religiosos ou étnicos que infelicitam tantas sociedades. Não temos guerras e vivemos em paz como nossos vizinhos.

Além disso temos muitas empresas de primeira classe e uma elite empresarial respeitada em todo o mundo. Sem falar que somos um povo criativo na cultura e amável na convivência. Apesar disso tudo somos ainda um país pobre, com grande parte da população vivendo na pobreza. Deve haver algum mistério nessa história.

Nos últimos cinqüenta anos tentamos de tudo na política, desde vinte anos de ditadura militar, treze anos de um governo de esquerda e agora até um governo de extrema direita. Como dizia o poeta Drummond: todos eles … e nenhum resolveu.

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Embora nenhum passado possa nos consolar do presente, ele pode lançar uma luz sobre o mistério de nosso fracasso atual. O Brasil já viveu anos de muito progresso e de muita esperança, que se estendem desde os anos de 1930, logo após à grande depressão e duraram pelo menos três décadas, passando por diferentes governos.

O que havia de muito diferente então é que a sociedade era menos profundamente dividida por ideologias ou valores e os governos só governavam, não tentavam impor a todos sua visão do mundo e da vida. E acima de tudo, os brasileiros então pareciam ter os olhos voltados para a frente. Havia confiança e esperança num futuro sempre melhor.

Sem isto nenhum governo nos salvará e nenhum futuro nos cairá dos céus.

 

Roberto Brant foi deputado federal constituinte por Minas Gerais, secretário de Fazenda no governo Hélio Garcia em Minas, ministro da Previdência e Assistência Social do governo de Fernando Henrique Cardoso. Preside atualmente o Instituto CNA. Escreve nos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀

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