Jair Bolsonaro começou o ano com dois superministros e chegou ao fim sem nenhum. Apesar das bordoadas que tomou do chefe e do insucesso da maioria das propostas que despachou ao Congresso, Paulo Guedes ainda faz por merecer o título de Posto Ipiranga, quando nada porque o governo carece de iluminados.
Sérgio Moro, da Justiça, foi rebaixado. O desprestígio interno de Moro não tem correspondência nas ruas. O governo é mal avaliado no combate à corrupção, mas a popularidade de Moro continua nas alturas e é bem maior do que a de Bolsonaro. Guedes não faz planos para sair do governo. Moro, faz.
Bernardo Caram e Fábio Pupo, da Folha de S. Paulo, apuraram números que dão uma medida das dificuldades de Guedes este ano. Dois terços de suas propostas foram rejeitados ou dependem de aprovação no Congresso. O ministro faz mais sucesso na Brigadeiro Faria Lima do que na Praça dos Três Poderes.
A análise considera projetos de lei, PECs (propostas de emenda à Constituição) e medidas provisórias. Foram 38 textos. Aprovados, apenas 13. O mais importante deles, a reforma da Previdência. Ela começou a ser gestada no governo Temer. Sua aprovação deve-se mais à força de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara.
Se consideradas apenas as Medidas Provisórias (MPs), que têm no máximo quatro meses para uma avaliação do Congresso, 20 textos foram enviados para lá pela área econômica do governo e já tiveram o prazo de exame encerrado. Somente 10 viraram leis e outros 10 foram rejeitados, segundo Caram e Pupo.
O Congresso demonstrou mais boa vontade com as MPs de Temer – 67% delas aprovadas no início do seu governo. Antes disso, com as de Dilma no seu primeiro ano de governo – 84% delas aprovadas. E antes com as de Lula – 92% delas também aprovadas. O que explica isso? O comportamento do governo.
Bolsonaro elegeu-se dizendo que era contra “tudo isso que está aí”. Sua missão seria quebrar o sistema para só depois construir alguma coisa. Possivelmente, num segundo mandato. Tem sido coerente. Montou seu governo de costas para os partidos. Governa de costas para o Congresso. Não quer compartilhar o poder.
Tal postura, aliada à inexperiência política de muitos dos seus auxiliares, encontra forte resistência dentro do Congresso. Guedes pensou de início que bastaria “dar uma prensa” em deputados e senadores para que eles se rendessem. Moro pensou que seu prestígio no resto do país se estendia a Brasília.
Os políticos temem Moro, não o amam. Seu pacote de medidas anticrime foi desidratado para proteger aqueles que poderiam se tornar alvos dele. Para completar a desdita do ministro, Bolsonaro o vê com desconfiança desde o dia em que, convencido por Guedes, o convidou para fazer parte do governo.
Guedes, não, mas Moro é uma ameaça ao desejo de Bolsonaro de governar o país por oito anos. Se Guedes decidir um dia ir embora, Bolsonaro escolherá outro nome – e é vida que segue. Para Guedes também, que voltará a ganhar dinheiro. Se Moro for embora é porque decidiu tentar voltar nos braços do povo.
2020 é ano de eleição. Os políticos estarão mais sensíveis à vontade popular e o Congresso mais refratário a votar mudanças polêmicas.