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O Pedalinho (por Otávio Santana do Rêgo Barros)

Que mensagem passam os gestores incapazes de definir parâmetros técnicos para conter a pandemia e com sede de poder?

Por Otávio Santana do Rêgo Barros
17 mar 2021, 12h00
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  • Uma das diversões mais aprazíveis para casais apaixonados é curtir a vista arrebatadora da lagoa Rodrigo de Freitas desfrutando-a em pedalinhos.

    O esforço para movê-los demonstra cumplicidade. Quando um dos parceiros se cansa, o outro redobra suas energias para compensar a força dirigida aos pedais.

    A nossa sociedade não vem demonstrando cumplicidade para pedalar os barquinhos neste lago da pandemia. Egoísta, pensa como Benjamin Disraeli: “minha ideia de pessoa agradável é a de quem concorda comigo.”

    Prefere dirigir aqueles bate-bates (carrinhos elétricos) para descarregar seus instintos raivosos, chocando-se uns contra outros, como uma batalha de Kursk (maior enfrentamento de blindados da segunda guerra mundial, com cerca de 500.000 mortos).

    Às vezes, o rapaz responsável pela atração precisa vir acudir quando o engarrafamento de carrinhos impede que se movam em qualquer direção.

    Estando neste picadeiro insensato de bate-bates, como as autoridades poderão ajudar a desfazer o caos sanitário que se abateu sobre o País?

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    Os gestores precisarão sair das suas cabines de controle, de onde nada veem, ou apenas enxergam por meio das mídias sociais, e descer ao chão no dia a dia das portas dos hospitais, das UPAs, dos transportes público lotados e organizar com coração e razão o esforço de guerra contra esse flagelo.

    A organização passa por entender onde reside o principal desafio para conter o avanço descontrolado da pandemia. A análise do problema é a primeira ação a ser desencadeada.

    Muito estudiosos iluminam dificuldades pontuais como se um único carrinho elétrico, se removido do entulho de tantos outros carrinhos, pudesse resolver a questão. Desastres de avião não ocorrem apenas como resultado de uma única causa.

    Por certo, cada análise é importante e contribui para o intento de curar o problema: falta de vacinas contratadas, logística de distribuição ineficaz, desemprego em alta, impossibilidade de distanciamento entre as pessoas, egoísmo social crescente, contestação ao uso de máscaras, falta de gestores hospitalares, implemento de novos leitos etc.

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    Completado um ano de tanto sofrimento, percebe-se que o maior problema é falta de uma comunicação que toque de fato o íntimo de cada pessoa.

    Que mensagem passa um ídolo do futebol ao participar de evento ilegal proibido por norma sanitária municipal, ainda que tenha emitido um pálido pedido de desculpas?

    Que mensagem passam os gestores incapazes de definir parâmetros técnicos para conter a pandemia, demonstrando apenas preocupação com a permanência no poder?

    Não somos uma democracia semelhante à americana, na qual os governos federativos têm forte independência e inegável ação sobre os seus cidadãos. Aqui, o poder central tem predominância e, por isso mesmo, precisa agir em casos de desequilíbrio da federação, comunicando a decisão e liderando pelo exemplo.

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    Se nos países cuja população tem melhor capacidade de lidar com a desinformação os confrontos acontecem, quem dirá em Terra de Santa Cruz tão carente de educação, única ferramenta que permitiria discernir fatos de fofocas?

    Somos engolfados pelo paradigma da informação. O excesso de informação leva à desinformação. Ressalve-se, esse problema não é exclusividade nossa.

    Quantas mensagens recebemos diariamente em grupos e cremos como verazes? Quem se preocupa em checar o fato quando ele parece afrontar a realidade de seu entorno?

    Se não percebe, isso é uma censura disfarçada! Você recebe apenas aquilo que o censor – quem organiza e distribui a informação – identificar como interessante para a tese defendida pelo grupo. Se você é indolente, se você é ingênuo será sempre passageiro e nunca condutor.

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    Chega de divisão maniqueísta. Sentemos lado a lado no pedalinho de nosso destino como Povo, e empurremos com entusiasmo nossos pés para girar as lâminas da embarcação. O barco da frente que dite a voga.

    Se o timoneiro demonstrar habilidade, senso de organização e liderança, vamos atrás. Ao contrário, substitua-se aquele que aponta o caminho equivocado, elegendo-se outro capaz de guiar-nos.

    Paz e bem!

    Otávio Santana do Rêgo Barros é general do Exército e ex-porta-voz da presidência da República. Escreve aqui às quartas-feiras

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