
É cedo ainda para arriscar previsões sobre as eleições para as presidências da Câmara e do Senado. Não se justifica o otimismo dos que vinculam a vitória do governo no Supremo Tribunal Federal à disputa que é essencialmente política. É no recesso que as negociações ganham corpo e desenho consistente.
Um resultado que leve o centrão ao comando da Câmara tende a aumentar a desconfiança de investidores que temem o custo político da aliança com o governo. Não à toa, pois as notícias que têm origem no próprio governo indicam que há um orçamento de guerra não apenas para a pandemia, mas também para garantir o sucessor de Rodrigo Maia.
De fato, a exoneração do ministro do Turismo para abrir espaço à futura composição ministerial decorrente da aliança, serviu para escancarar a interferência do Planalto na sucessão com uma agressividade rara. O governo implantou o clima de tudo ou nada.
Como não se deve conceder ao chamado centrão entusiasmos reformistas não é de se esperar mais facilidades para o avanço da pauta de mudanças que integra o discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes. Mesmo porque ela jamais teve o empenho efetivo do presidente da República, cujo discurso liberal teve a duração da campanha.
A economia, que já vinha mal antes da pandemia, sofreu corrosão maior e mais veloz após sua disseminação. E 2021 será o auge do conflito entre a continuidade do socorro e a busca do equilíbrio fiscal, agravado por ser véspera de ano eleitoral para deputados, governadores e presidente.
Como registrou este site, o consultor e ex-presidente do Banco Central, Afonso Celso Pastore, é uma das muitas vozes pessimistas que preveem um 2021 turbulento, com muita insegurança e desconfiança. Mais desemprego e inflação estão no caminho e nem o ministro da Economia e o presidente da República inspiram confiança quanto uma gestão firme da crise.
Nesse estágio do processo pré-eleitoral, como sempre, há contas precárias destinadas a criar clima psicológico favorável aos dois lados em disputa. É improvável, por exemplo, que toda a esquerda apoie Artur Lira, o candidato da preferência do governo.
Por ora, é conta de um candidato só, o único que está posto. E, por fim, não basta ao governo emplacar seu candidato, mas terá de conviver com os novos aliados que foi buscar na última hora para atravessar a segunda metade do mandato que se desenvolverá em ambiente adverso.
João Bosco Rabello ecsreve no Capital Político. Jornalista há 40 anos, iniciou sua carreira no extinto Diário de Notícias (RJ), em 1974. Em 1977, transferiu-se para Brasília. Entre 1984 e 1988, foi repórter e coordenador de Política de O Globo, e, em 1989, repórter especial do Jornal do Brasil. Participou de coberturas históricas, como a eleição e morte de Tancredo Neves e a Assembleia Nacional Constituinte. De 1990 a 2013 dirigiu a sucursal de O Estado de S. Paulo, em Brasília. Recentemente, foi assessor especial de comunicação nos ministérios da Defesa e da Segurança Pública.