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O Blocão

OlavoC, o guru do hospício

Por Tânia Fusco
Atualizado em 30 jul 2020, 19h45 - Publicado em 7 Maio 2019, 11h00
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  • Ir para o Blocão era a maior ameaça que pairava sobre os internos do Hospital Psiquiátrico onde um amigo, acometido de deprê, resolveu se internar para tratar de angústia aguda no Brasil dos Bosos.

    Ir para o Blocão é o deu ruim. Muito ruim. O Blocão – assim denominado por ser uma construção de concreto, cinza e lúgubre – é o pedaço prisão do Hospital, com grades, circulação limitada, isolamento, risco de amarras ou camisa de força e o que mais sua imaginação possa supor para conter os dos surtos psicóticos graves.

    Isso meu amigo descobriu na primeira manhã no pátio de convivência coletiva dos das maluquices leves, ainda sob controle. Soube também que ali estavam os TM e os DQ. O que significa os do Transtorno Mental e os da Dependência Química.

    Soube que era do grupo TM. Onde cabem os da depressão, da ansiedade, do estresse pós-traumático, da somatização, dos transtornos alimentar, bipolar, obsessivo-compulsivo, e da esquizofrenia. Os DQ, aprendeu, são os dependentes químicos, também com N divisões. Um TM não confia num DQ e vice-versa.

    O cigarro é liberado para os dois grupos. Bengala segura pra quem está no limite de perder as estribeiras e, pavor, cair no Blocão.

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    Ali no intramuros da sua crise, o amigo pensou: Isso me remete… ao Brasil de agora, com o governo da família Bolso no papel de Blocão – construção rústica, de concreto escuro, com grades, zero jardins, zero verde, sem paisagem na janela, saída limitadíssima, onde estão contidos loucos varridos com todo tipo das síndromes do ramo psiquiátrico.

    O Blocão Boso ameaça. Mete medo geral. Tá ali, visível a olho nu, um bicho papão da goela grande. Na guarita, Neros 1, 2 e 3, mochila carregada com álcool e pólvora (a preferida), afinam harpa sem corda para incendiar tudo com trilha sonora de Sexta-feira 13. Sem radar, nem lombada. Em velocidade máxima.

    OlavoC, o guru do hospício, de longe, comanda o grupo dos DCH – dependentes crônicos de holofotes, onde cabe também o Carlucho. O garoto, que o jornalista Mario Rosa denomina de Nero 2, na verdade tem dupla militância em patologias. É ainda legítimo portador de psicose, doença que pode ser desencadeada na adolescência e seguir vida afora.

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    Ambos padecem de logorreia, que é a compulsão para falar qualquer M, loquacidade exagerada que se nota em determinados casos de neurose e psicose, como se o paciente, assim, quisesse dar vazão ao grande número de ideias que passam por sua cabeça – quaisquer que sejam.

    Damares, o ministro das Relações Exteriores e os ministros da Educação – o caído e o atual – são TMGP, de transtorno mental grave e persistente. Os generais são DQD, dependentes químicos da ditadura. Saudosismo que não há cigarro ou tarja preta que aplaque.

    Moro é DQL – dependente químico da Lavajato. Sem ela, desandou vitimado de banzo. PGuedes bate ponto ala dos psicopatas, transtorno marcado pela total ausência de empatia. O psicopata é incapaz de perceber sentimentos ou necessidades das pessoas à sua volta. Tem encanto superficial, lábia e sedução, capaz de manipular quem chega perto.

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    Mourão, o vice, é paciente leve, da ala dos bipolares. Ontem mauzão, hoje bonzinho, amanhã…

    O PR, comandante em chefe do país, é elacista – sofre de elação, que é o estado de acentuada exaltação, animação e alegria. Ocorre na mania, sendo também vista ocasionalmente na esquizofrenia e em pacientes com lesão do hipotálamo. Patologia que divide com seu mestre, OlavoC, o único.

    Ainda acomodados no pátio da ala light, de susto em susto, estamos nós, os por eles diagnosticados como dependentes químicos da balbúrdia – DQB. No corner, vamos também engrossando o cordão dos TM. Não há psique que aguente. Não há álcool, benzodiazepínico ou fumaça capaz de aliviar as dores advindas dos feitos e desfeitos do povo do Blocão. Tá feia a coisa. Demais da conta.

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    Tânia Fusco é jornalista 

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