Militar deve ponderar muito se desejar se envolver em política. Por natural, é mister estar amparado na legislação. Mas, como qualquer cidadão, tem o direito e o dever de pensar grande o País.
Em nossa carreira, confiamos nos relacionamentos construídos nos cadinhos das escolas de formação e que são aprofundados na dura vivência da caserna.
Lealdade e respeito não têm margem de erro. Se eu digo sim, é sim. Se eu digo não, é não. E falamos olhando nos olhos, não desviamos a mirada!
Poderemos, aqueles menos vigilantes, sermos ardilosamente tomados como marionetes de um número de teatro mambembe, onde o manipulador dos cordões não se interessa pelo sorriso ou choro da plateia, apenas com o benefício auferido na bilheteria política ou pessoal.
Representamos, como soldados profissionais, o papel delineado na peça social do nosso País. Somos uma instituição de Estado, perseguidora dos princípios constitucionais, que se qualifica como a mais conceituada aos olhos da população.
Não tem coloração na política, tem o matiz verde e amarelo da sociedade brasileira.
Desde cedo, aprendemos a avaliar em conjunto os problemas que nos são postos sobre as mesas dos jogos de guerra. Aos que decidem é bom ouvir outras opiniões. Onisciente, onipotente e onipresente, apenas Deus.
No Brasil dos últimos anos, os temas de relevância nacional não são estudados em todos os aspectos, deixando falhas insuperáveis aos muitos projetos.
Por vezes não são ponderados, ficando a decisão solitária àqueles que se arvoram peritos em tudo, embora possuam uma bagagem analítica na profundidade de um palmo de água.
A sociedade brasileira sofre a afogar-se onde basta ficar de pé para sobreviver a essas decisões impensadas.
“Estamos padecendo de projeto de Nação”. Essa frase vem sendo repetida como ladainha pelo General Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército Brasileiro.
São diretivas que poderão vencer as barreiras do tempo eleitoral e perdurar como eixo de conduta a nos indicar a senda do desenvolvimento, ainda que nos tome um pouco mais de tempo.
Vivemos voos de galinha que nem são altos, nem são longos.
Associo-me ao ex-comandante e a outros brasileiros que igualmente se interessam em discutir e cooperar com os seus esforços para o bem da nossa sociedade. O que se semeia desses estudos, pode ser colhido pelos políticos que tenham espírito de estadista.
Tomo de empréstimo de George Orwell, consagrado escritor inglês, a sua obra “A Revolução dos Bichos” e a comparo com o viver de nossos dias.
Na “Granja dos Bichos”, os mandamentos afixados no celeiro grande (os planejamentos, as diretrizes ou os acordos políticos) vêm sendo modificados a cada dia e adaptados pelos Napoleões, Bolas de Neve e Gargantas contemporâneos.
Na obra, quando os bichos se revoltaram e expulsaram o Senhor Jones, antigo proprietário, eles tinham em mente uma nova proposta de convívio político e social.
Entretanto, passados os anos, se perguntaram: era isso que desejávamos? “Quitéria ficou com os olhos cheios d’água. […] aquilo não era bem o que pretendiam ao se lançarem, anos atrás, ao trabalho de depor o gênero humano.” A égua refletia o sentimento de abandono diante dos ideais que não se concretizaram.
Hoje, os Napoleões, Bolas de Neve e Gargantas voltaram a reunir-se com os granjeiros, aqueles outrora supostos desafetos. Nossa esperança é que estejam tratando de melhor pensar e agir, para oferecerem resultados promissores ao nosso País. E não são poucos os desafios!
Se assim não for, coisa boa daí não sai para os bichos em geral! Mais uma frustração. Coitada das Quitérias.
Paz e bem!
Otávio Santana do Rêgo Barros é general do Exército e foi porta-voz da presidência da República. Escreve aqui às quartas-feiras.