Era óbvio que um bando de generais ingênuos e neófitos na articulação parlamentar não ia montar uma base no Congresso para Jair Bolsonaro. Caíram na conversa mole do primeiro esperto que se apresentou, o líder do PP e do ex-blocão, Arthur Lira, e prometeu que, em troca de cargos e verbas, o Planalto levaria o apoio fechado de 220 deputados. A votação do Fundeb, com 492 votos contra o governo, mostrou que o rei estava nu: Bolsonaro não tem, nunca teve e nunca terá tropa de choque desse tamanho, e nem adesão incondicional do Centrão.
Mas a saída do MDB e do DEM do bloco e, logo depois, o anúncio do PTB e do Pros de que também estão em retirada, passam a ideia de que a casa caiu de vez. Não é bem assim. No blocão, no Centrão ou em qualquer outro canto, MDB e DEM continuam os mesmos. Por exemplo, votando, em sua maioria, contra um eventual pedido de impeachment de Bolsonaro nas atuais condições de temperatura e pressão – sem povo nas ruas e desidratação total de sua popularidade. O que não quer dizer que, se essas circunstâncias mudarem, não apoiarão no futuro. O que fariam de qualquer jeito, com ou sem blocão, Centrão ou coisa que o valha.
Da mesma forma que se lixaram para as propostas da equipe econômica sobre o Fundo da Educação, esses partidos vão se posicionar em relação a outras reformas, como a tributária, segundo seus próprios interesses – que, aliás, estão explícitos no projeto do presidente e líder do MDB, Baleia Rossi, que começou a tramitar antes da proposta do governo. Reforma tributária, se houver, não será a de Paulo Guedes, mas sim a de Rodrigo Maia, Baleia, Aguinaldo Ribeiro e outros. Mas, se for obtido um acordo em torno dela – e de outras reformas como a Lei do Gás e a independência do Banco Central – o governo poderá até capitalizar vitórias, como fez na Previdência.
Ou seja, nada está totalmente perdido. Nem ganho. O que ficou claro nos movimentos partidários da semana é que os articuladores do Planalto estavam comprando gato por lebre das mãos de Arthur Lira, que coordenou a distribuição de cargos ao Centrão, prometeu vitórias e não entregou. Foi ele, com a ambição de ser o próximo presidente da Câmara, o principal alvo da operação. Agora, cada um desses partidos vai negociar em separado.
Por trás do reagrupamento de forças há, naturalmente, projetos de poder que vão além de cargos e do comando do Legislativo. A reedição da velha Aliança Democrática de MDB e DEM – hoje minguada com 63 deputados – pode prenunciar uma articulação centrista para 2022, agregando também PSDB e o PSD em torno da candidatura João Dória. Mas esse não foi o objetivo mais imediato, e nem é coisa para já.
A implosão da narrativa do Centrão como alicerce da estabilidade política ao governo era uma pedra cantada para quem acompanha o dia-a-dia do Congresso. Só os incautos generais do Planalto parecem ter acreditado que a profusão de emendas e cargos distribuídos nos últimos meses havia consolidado uma base parlamentar. Não consolidou e nem vai consolidar, nem que Maquiavel seja contratado como articulador político. É missão impossível quando o presidente da República só olha para o próprio umbigo e faz política de forma desagregadora. A confiança, matéria prima básica dos acordos políticos, sumiu das prateleiras.
Helena Chagas é jornalista