Flávio Bolsonaro, um senador de bons negócios
Ele se diz vítima de perseguição, por ser filho do presidente
A grade alta marca fronteira entre a portaria e a padaria VIP na fachada do número 297 da Prado Júnior. Estuário de solidões nas noites de Copacabana, a avenida embala sonhos de riqueza em negócios com a Bíblia, as drogas e o sexo.
Na loteria da vida em Copacabana, é raro alguém lucrar tanto, tantas vezes e em tão pouco tempo quanto já conseguiu um jovem deputado estadual.
Aos 21 anos, ele ganhou um mandato ancorado no pai. Com 33 anos comprou uma quitinete no 297 da Prado Júnior. Pagou R$ 140 mil.
Vendeu o imóvel por R$ 550 mil em 2014, quinze meses depois. Teve um lucro extraordinário de 292% numa área de Copacabana onde a valorização média havia sido de apenas 11% no período, de acordo com o índice FipeZap, referência do mercado imobiliário. Embolsou R$ 410 mil em apenas 60 semanas.
Na mesma terça-feira, pagou R$ 170 mil por outro apartamento, no 96 da barulhenta Rua Barata Ribeiro. Vendeu-o por R$ 573 mil, doze meses depois, em novembro de 2013.
Lucrou mais R$ 403 mil. Ganhou 237% numa área onde a valorização média foi de apenas 9% no FipeZap.
O espírito capitalista, que diz ter lapidado na Getulio Vargas, multiplicou-lhe a riqueza em outros bairros.
Em 2016, pagou R$ 1,7 milhão por um imóvel em Laranjeiras. Vendeu em oito meses, por R$ 2,4 milhões.
Naquele bairro, 2017 terminou com desvalorização média de 3,34%. No entanto, ele lucrou 36,89%. Levou para casa a bolada de R$ 700 mil.
Flávio Bolsonaro fez pelo menos 19 grandes negócios imobiliários em Copa, Barra, Botafogo e Laranjeiras, entre 2010 e 2017. Gastou R$ 9,4 milhões e lucrou R$ 3 milhões no curto espaço de 84 meses.
Por aparente incompatibilidade com a renda de parlamentar, o Ministério Público pediu-lhe explicações sobre a origem, os lucros e o destino do dinheiro. Isso foi há seis meses. E nada. Ele se diz vítima de perseguição, por ser filho do presidente.
Poderia, ao menos, ensinar aos cariocas como lucrar tanto em pouco tempo, numa cidade devastada pela corrupção em fóruns como a Alerj.
(Transcrito de O Globo)