Assine VEJA por R$2,00/semana
Noblat Por Coluna O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Fazer a economia circular (por Emiliano Lobo de Godoi)

80% dos produtos fabricados se transformam em lixo em até seis meses após sua compra

Por Emiliano Lobo de Godoi
28 dez 2020, 11h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Em termos históricos, nossa economia se baseia na premissa de que a natureza é uma fonte inesgotável de recursos, explorável sem qualquer tipo de planejamento. Porém, a crescente escassez de matéria-prima nos processos produtivos tem evidenciado que essa premissa não corresponde à realidade.

    Publicidade

    A economia tradicional é fundamentada em um modelo linear de negócios que consiste em um processo de mão única de extração, produção, utilização e descarte das mercadorias.  Este modelo é conhecido como “do berço ao túmulo”, ou seja, um produto “nasce”, é utilizado e, depois, descartado. Não são concebidos para reaproveitamento e, em muitos casos, são propositalmente planejados para se tornarem obsoletos ou não funcionais, forçando o consumidor a comprar uma nova geração do produto.

    Publicidade

    Por maior que seja o esforço em tentar se descartar algo de maneira correta, existe uma grande fragilidade neste propósito. Quando se descarta algo se despreza também todas as tecnologias, matérias-primas e insumos que foram utilizados para sua produção. Ou seja, se descarta a água, a energia, a mão de obra, conhecimento e tudo mais empregado na sua produção. Uma prática assim, pode ser correta?

    Pesquisas indicam que 80% dos produtos fabricados se transformam em lixo em até seis meses após sua compra. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), no ano de 2019 o Brasil gerou 79,6 milhões de toneladas de lixo, um aumento de quase 1% em relação ao ano anterior.

    Publicidade

    Deste total, apenas 3% foram reciclados e 29,5 milhões de toneladas de resíduos acabaram em lixões ou locais similares, ou seja, 40,5% do total foram destinados a locais desprovidos de qualquer tipo de controle. Neste cenário, o caminho de mão única da economia linear apresenta um risco cada vez mais iminente.

    Continua após a publicidade

    Como alternativa, surge o caminho representado pela economia circular. Este conceito está associado à fase inicial de planejamento de novos produtos para que, ao final de seu ciclo de vida, se transformem em outras mercadorias. Assim, através de um novo conceito, o resíduo deixa de existir, passando a ser matéria-prima de novos produtos.

    Publicidade

    Com isso, as empresas se tornam, simultaneamente, consumidoras e fornecedoras de materiais que serão reincorporados, reduzindo o consumo de recursos naturais, gerando menor degradação ambiental e maior eficiência econômica.

    Repensar a forma de implementação da economia é um caminho necessário e urgente para um mundo mais sustentável e racional. Ao contrário do que possa parecer, fazer a economia circular não é gastar mais e, sim, aproveitar melhor o que já está disponível para produzir sem a necessidade de se extrair novos recursos naturais.

    Publicidade

    Não é deixar de produzir e, sim, produzir melhor, com menos desperdício, com mais eficácia e menor impacto ambiental.

    Continua após a publicidade

    Fazer a economia circular, portanto, é se inspirar na natureza. Já no longínquo século XVI, Nicolau Copérnico, famoso astrônomo e matemático, afirmou que “a sabedoria da natureza é tal que não produz nada de supérfluo ou inútil”.

    Publicidade

    É, pois, pensar que algo só se torna lixo quando não temos a capacidade de dar novo uso a esse produto. É pensar que não existe o termo “jogar fora, porque todo descarte é feito dentro de nosso espaço comum, que é o planeta Terra.

    É, por fim, pensar que o caminho do “berço ao túmulo” deve ser redesenhado para um novo horizonte que é “do berço ao berço”. É entender que o planeta terra é maior e mais forte que a espécie humana e pode sobreviver muito bem sem a nossa presença.

     

    Emiliano Lobo de Godoi escreve no Capital Político. É Diretor Geral de Extensão e coordenador do Programa Sustentável da Universidade Federal de Goiás. Graduado em engenharia agronômica pela Universidade Federal de Viçosa (1988), com mestrado e doutorado pela Universidade Federal de Goiás, estágio de pós-doutoramento em Licenciamento Ambiental pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa. É professor visitante da Universidade de Playa Ancha, Valparaíso, Chile, Universidade de Lisboa e Universidade de Sevilha.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.