Duro teste para o país abençoado por Deus e bonito por natureza
O 7 x 1 dos médicos sobre os economistas
Os primeiros casos de coronavírus foram registrados na China em dezembro último. O Brasil, mas não só, dormiu em berço esplêndido até que há um mês e meio o Ministério da Saúde acordou e começou a se mexer. Foi a sorte, embora falar de sorte a essa altura do jogo pareça precipitação e torcida para que tudo dê certo. E é mesmo.
Mas na partida do coronavírus que mal começou por estas bandas, sem sombra de dúvidas os médicos já goleiam os economistas. Enquanto o ministro Luiz Mandetta, da Saúde, falou sozinho para o país nas últimas semanas a ponto de quase ficar rouco, seu colega Paulo “Samba de uma Nota Só” Guedes emudeceu, e mudo permanece, atarantado.
O que ele conseguiu balbuciar até ontem foi: “Precisamos aprovar as reformas. Precisamos aprovar as reformas”. Prometeu para breve o anúncio de medidas destinadas a combater os efeitos da pandemia que assombra o mundo. O que impediu, porém, que ele e sua equipe de sábios soubessem há mais tempo o que fazer? O amadorismo. O desapego às pessoas.
“Temos capacidade e velocidade de escape para mantermos nossa decolagem. Não estamos sincronizados com a economia mundial”, ditou Guedes na quarta-feira passada para que fosse publicado – e foi. No mesmo dia, para que não fosse publicado, admitiu em pânico a um grupo seleto de deputados e senadores que o PIB de 2020 crescerá, no máximo, 1%. Foi publicado.
Se a previsão de Guedes desta vez se realizar, o pibinho do ano passado, de 1,1%, será lembrado com saudade. Como foi o pibinho anterior de 1,3% deixado como herança pelo presidente Michel Temer ao seu sucessor. Entre muros, Guedes culpa o presidente Jair Bolsonaro pela lenta, quase imperceptível recuperação da economia. E com razão.
Se Bolsonaro o tivesse ouvido e levado em conta – é o que Guedes acha -, o país estaria muito melhor. Quando se reúne com o presidente, o ministro deve ter pensado muitas vezes: “Por que ele está sentado ali e não eu?” Era seu sonho. Guedes, de fato, pode ser mais competente do que Bolsonaro, mas convenhamos, isso não signifique lá grande coisa.
O presidente que o país elegeu é o que debochou da crise do coronavírus há menos de cinco dias, desembarcou de volta dos Estados Unidos debochando dela e estimulando manifestações de rua contra o Congresso e a Justiça até que o vírus bateu à sua porta. Escapou do primeiro teste. Teme o segundo. E, se não mentiu, ainda terá uma nova cirurgia pela frente.
A difusão rápida e em escala global na nova peste ainda não alcançou em cheio as Américas e a África. Na prova de conhecimentos adquiridos e de eficiência comprovada, os médicos, por aqui, assumiram o poder deixado vago pelos economistas e os políticos inertes e amedrontados – os últimos, ocupados em cuidar acima de tudo da própria saúde.
Em horas como essa, não adianta reinventar a roda. Copie-se o que funcionou bem até agora. E a receita chinesa parece ideal. Na China, além dos que morreram, se morrerem todos os atuais doentes em estado grave, estatisticamente será irrelevante. De resto, nenhum sistema de saúde em parte alguma foi concebido para enfrentar tão gigantesco desafio.
O nosso estará à prova nas próximas semanas. E para não comprometer seu desempenho, seria aconselhável que Bolsonaro, seus filhos e os generais radicalmente alinhados com eles fossem mantidos em longa quarentena e proibidos de acessar as redes sociais. Isolamento rigoroso e completo, sem concessões. AI-5 neles.