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Diplomacia em cacos (por Mary Zaidan)

A escalada negacionista

Por Mary Zaidan
Atualizado em 30 jul 2020, 18h49 - Publicado em 12 jul 2020, 08h30
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  • O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, nas negociações do Pacto de Letícia pela Amazônia, Colômbia - 06/09/2019 (Raul Arboleda/AFP)

    O reiterado descaso do presidente Jair Bolsonaro pela pandemia que já tirou a vida de mais de 70 mil brasileiros tem um rival quase imbatível: o desempenho do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, na dupla tarefa de desacreditar o vírus e o Brasil.

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    Desde que a Covid-19 desembarcou no país, o chanceler tenta caracterizá-la como mal criado e disseminado pela esquerda – o “comunavírus”, como ele gosta de tratar o que a turma bolsonarista chama de “vírus chinês”. Em abril, publicou em seu blog pessoal um artigo em que acusa a Organização Mundial da Saúde de usar a pandemia para incrementar um “projeto globalista” na direção ao comunismo.

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    No texto, o ministro ressalta que o comunismo embutido no “vírus ideológico” – considerado por ele mais perigoso que a Covid-19 – já estava sendo executado pelo “climatismo ou alarmismo climático”, ou sob a égide  da “ideologia de gênero, do dogmatismo politicamente correto, do imigracionismo, do racialismo, do antinacionalismo, do cientifismo”. Um libelo de arrepiar até terraplanistas.

    A escalada negacionista continuou a se aprofundar, incluindo organismos estatais para divulgá-la.

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    Na terça-feira, 14, Araújo promove, por meio da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), órgão de pesquisa do Itamaraty, a conferência virtual “Memória do comunismo e atualidade do vírus da mentira”, com o jornalista e escritor Federico Jiménez Losantos. Apresentador do La Mañana, programa matutino de audiência da rede espanhola Code, Losantos é um achado: um maoísta desencantado, com discurso aclamado pela direita extrema, que se autodefine como liberal.

    Outras palestras no gênero foram realizadas ao longo do ano. A conjuntura internacional no pós-coronavírus teve como debatedores os neoespecialistas e assessores especiais da Presidência da República Felipe G. Martins e Arthur Weintraub, irmão do ex-ministro da Educação. A despeito de ter sido o pior titular da pasta a se sentar na Esplanada – ou até por esse motivo -, o antiglobalista convicto Abraham ganhou assento no Banco Mundial como prêmio de consolação pela fidelidade canina ao presidente Bolsonaro.

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    A Funag recebeu também o moçambicano Gabriel Mithá Ribeiro, polêmico defensor de teses no mínimo heterodoxas. Para o autor do livro “Um século de escombros: pensar o futuro com valores morais da direita”, o racismo não existe mais, o colonialismo nunca existiu, e o “pai intelectual do Brasil atual é o professor Olavo de Carvalho”.

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    O ciclo de conferências tem causado desconforto a diplomatas, que só não põem a boca no trombone em respeito ao Itamaraty e por saber que governos passam e a instituição fica. Alguns deles não escondem que gostariam que esse passasse depressa.

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    Nada contra o pensamento de direita que em muito enriquece a governança em diversas partes do mundo. Nem mesmo aversão às suas correntes mais radicalizadas, ainda que sofram dos males do fanatismo, válido para as dois polos ideológicos. Mas quando promovidos por uma organização de Estado, os encontros teriam que, pelo menos, tentar parecer plurais. Seria conveniente ainda se despirem do caráter catequizador e do eloquente proselitismo ao governante da vez.

    Como se um erro autorizasse outros, alguns dirão: os governos do PT faziam ações semelhantes e ninguém reclamava. Mentira para boi dormir ou para iludir a boiada. Foram duramente criticados, seja no conteúdo pró-ditaduras de esquerda nas Américas, na África e no Oriente Médio, seja no desperdício de dinheiro público para promover encontros de formação política.

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    Não é necessário recorrer ao Google ou fazer qualquer esforço de memória para apontar que o início da partidarização das Relações Exteriores se deu sob o comando de Celso Amorim, no governo Lula. Ali, o Itamaraty começou a envergonhar seu patrono Rio Branco. De lá para cá, respirou um pouco no curto período de Michel Temer para, de novo, cair na esparrela.

    Com sua agenda desconectada da razão, da lógica e do mundo, Araújo é um dos protagonistas ativos do massacre da imagem do Brasil lá fora, golpeada cotidianamente pelo negacionismo do presidente Bolsonaro diante da pandemia, desmatamento recorde e desdém ambiental.

    Como o país precisa de gente capaz de desfazer nós e não de apertá-los, Araújo entrou na mira da turma do “segura o touro”. Os que defendem um governo sem arroubos tentam convencer Bolsonaro a colocar na bandeja as cabeças do chanceler e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

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    Salles até pode ser servido. Araújo é prata da casa.

    Enquanto isso, a cristaleira refinada anos a fio pela invejável diplomacia brasileira, que começou a se quebrar no governo Lula, se estilhaça de vez. Vira cacos.

     

    Mary Zaidan é jornalista 

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