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Dia do Fogo

Amazônia

Por Tânia Fusco
Atualizado em 30 jul 2020, 19h29 - Publicado em 27 ago 2019, 12h00
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  • Nos anos 90, viajei por rios e sobrevoei seguidamente os quatro cantos do estado do Amazonas, parte dos 5 milhões de quilômetros quadrados que fazem a Amazônia brasileira.

    Derramada em nove estados – Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e parte do Maranhão -, a nossa Amazônia corresponde a 61% do território brasileiro e contém 1/5 da disponibilidade mundial de água potável.

    Vista de cima, era um mar verde, denso, intenso, fechado e vivo. Por dentro, navegando pelos rios Negro, Solimões ou Amazonas, a grandeza das paisagens provocava silêncio e reverência. Tipo, Deus existe. Só força divina pode produzir tanta beleza. Impossível não se emocionar, ficar indiferente.

    Aquele mundo de verde e àguas que, a visão de um pedaço, N vezes me fez chorar de emoção, contem 20% do bioma cerrado, todo o bioma Amazônia – o mais extenso dos biomas brasileiros -, corresponde a 1/3 das florestas tropicais úmidas do planeta e guarda a mais elevada biodiversidade.

    A Amazônia é inimaginalvemente bela. Não há outra palavra porque a imaginação não alcança tamanha belezura. Alí o criador abusou do direito de maravilhar.

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    Vista de perto a Amazônia é Ual! Derruba o queixo, detona qualquer arrogância. Faz tudo parecer pequeno.

    Pois então, neste momento de pequenez de fato, gente nanica em conhecimento, civilidade e sentimentos sente-se autorizada a destruí-la acintosamente. Marca por WhatsApp o Dia do Fogo – data pra queimar a floresta e o futuro. Tudo junto e misturado.

    Minguados mentais, de ferraduras e antolhos, não dão conta de tamanha grandeza. Avançam sobre ela. Tomam a providência de fazer fogo. Via Zap, a velha milicia do campo, que junta grileiros, fazendeiros, e outros bandidos soltos – alguns portadores de tornozeleiras de condenações por crimes ambientais ou não -, marcou o ataque: 10 de agosto.

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    No Pará, o alvo era a Floresta Nacional do Jamanxim -1,3 milhão de hectares de rica diversidade. Amazônia afora, neste agosto, foram 75,3 mil focos de incêndio. Todos criminosos.

    O modelo é o mesmo: fogo no mato seco à beira de estradas, motosserra em punho, grupo precursor e terceirizado derruba floresta, pra equipe do fogo jogar oléo e queimar.  Tudo. E o tudo foi tanto que até São Paulo engoliu fumaça amazônica na chuva negra que fez o dia virar noite.

    Eles andam assim – sem limites. Têm permissão pra avançar. Sobre tudo.

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    O Dia do Fogo lembra a Noite dos Cristais, da Alemanha de Hitler? Quem conhece História sabe o que aconteceu e o significado daqueles dias 9 e 10 de novembro de 1938. Sabe também como continuou, em que acabou.

    Outro agosto de desgostos na nossa História. E ainda não terminou.

    Tânia Fusco é jornalista 

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