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Desmatar é matar duas vezes (Por Emiliano Lobo de Godoy)

Entre agosto de 2019 e julho de 2020 foram eliminados 11.100 km2 de vegetação nativa da Amazônia Legal

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 8 fev 2021, 11h36 - Publicado em 8 fev 2021, 11h00
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  • As palavras possuem várias formas de serem interpretadas. Prefixos e sufixos alteram conceitos e ideias, mudando muitas vezes nossas conclusões. Analisá-las profundamente pode nos proporcionar novos entendimentos acerca de um tema antigo.

    Refletir sobre conceitos consolidados nos permite ampliar nossos limites do conhecimento e trazer luz a caminhos ainda obscuros.

    O prefixo “des” indica uma ação contrária. Desfazer é cancelar o que foi feito. Descontaminar é limpar o que foi poluído. Mas, nem sempre é assim. Matar significa tirar a vida de alguém. Desmatar não significa trazer a vida de volta.

    Desmatar implica em retirar a cobertura vegetal de determinado local. Assim, ao contrário do uso comum, o prefixo “des” não significa negação ou oposição ao ato de matar. Significa sim, um valor intensificador, reforçativo.

    A população brasileira, em sua maioria, desconhece a árvore que deu origem ao nome de seu país. O desmatamento está entrelaçado em nossa história. Desde a chegada dos portugueses, essa prática faz parte de nossa cultura e permanece inalterada.

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    Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que a taxa de desmatamento na Amazônia Legal aumentou 34% nos últimos 12 meses em comparação com o mesmo período do ano anterior.

    Entre agosto de 2019 e julho de 2020 foram eliminados 11.100 km2 de vegetação nativa na região, o que corresponde a perda de uma área de 2,1 campos de futebol por minuto ao longo deste período. Para a região do Cerrado, a área desmatada neste mesmo período foi de cerca de 7,3 mil km², um aumento de 12,3% em relação ao ano anterior.

    Pesquisas apontam que uma das principais causas do desmatamento é a pecuária extensiva e de baixa produtividade, com uma taxa de ocupação de menos de um animal por hectare. Em um país como o Brasil, que possui institutos de pesquisas agrícolas que são referências mundiais e onde se batem recordes constantes de produtividade no campo, isso não é aceitável.

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    Deixar a porteira aberta para isso não é uma boa opção. Essa ocupação com baixa produtividade é motivada, principalmente, pela posse e pela especulação de terras, demonstrando que o desmatamento não caminha sozinho e traz, em sua companhia, sérios problemas socias e econômicos.

    O mercado externo, impulsionado pela rentabilidade das principais atividades exportadoras, como a extração madeireira, a pecuária e a agroindústria, também é outro fator que atua fortemente na questão do desmatamento.

    Isso exige uma política internacional clara e responsável em relação a países compradores. Preservar as matas significa manter os seus serviços ambientais, incluindo a regularidade das chuvas por todo o país. Proprietários de áreas preservadas devem ser valorizados e compensados. Uma árvore em pé deve valer mais do que uma árvore deitada.

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    Eliminar uma vegetação nativa sem conhecer seus potencias econômicos, culturais e medicinais é rasgar páginas de um livro ainda não lido, é privar a sociedade de uma riqueza ainda não descoberta e é suprimir vidas ainda não conhecidas. Assim, podemos entender que a palavra desmatar esconde em si não o propósito de não matar e, sim, a consequência de matar duas vezes!

    Emiliano Lobo de Godoi é Diretor Geral de Extensão e coordenador do Programa Sustentável da Universidade Federal de Goiás. https://capitalpolitico.com/

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