A participação é a alma da democracia. Sem ela, a democracia não se realiza. Nesse contexto, o voto é uma das expressões mais importantes do cidadão, já que é a ferramenta que ele tem para expor sua opinião e seus desejos em relação às direções que o país deve tomar. Até pelo fato inconteste de que a política é algo inevitável em nossa sociedade.
Como vivemos em um sistema de nações, poderes e relações entre o Estado e a cidadania, o que intermedeia essa relação é a política. Seja pela eleição, seja pela participação, seja pela expressão de uma opinião. Mas a omissão também não deixa de ser uma expressão política. Por isso a questão é que, participando ou não, o cidadão sempre estará expressando uma posição política, no caso, a de não participar.
Se é certo considerar a omissão uma atitude política, temos certeza de que esta não é a atitude ideal, já que somente a participação ativa pode transformar os regimes políticos. A democracia é, como disse Churchill, o pior regime, à exceção de todos os demais. Ou seja, sem a democracia retrocederemos para a barbárie. O Brasil de hoje, onde se vive uma nascente democracia, trafega entre a virtude de alguns avanços e o perigo de alguns retrocessos.
Os avanços são claros, ainda que não percebidos. Fizemos reformas importantes na economia. Estancamos a corrupção endêmica na Petrobras. Abalamos o capitalismo tupiniquim, ancorado em troca de favores. As regras de “compliance” se disseminam nas relações entre o setor privado e o governo. Retomamos o rumo do crescimento.
No âmbito político-judicial, a Operação Lava-Jato, apesar de alguns evidentes excessos de ativismo judicial, depura aos poucos a política e condena, de forma concreta, práticas políticas que, mesmo ilegais, eram toleradas como parte do jogo.
O ciclo virtuoso pode continuar. Porém, vai requerer a participação ativa e diária de todos. Não apenas pelo voto, tanto essencial quanto transformador. Mas também pela reflexão cuidadosa da realidade e pela participação construtiva, sobretudo no que tange ao fortalecimento da cidadania e à redução da supremacia do Estado sobre a sociedade.
Murillo de Aragão é cientista político