O presidente Jair Bolsonaro mexeu no que é mais sagrado para as pessoas, e com justa razão: a vida. Não foi seu único erro, logo ele que acumula tantos. Mas talvez tenha sido o mais grave, o erro que poderá ao fim e ao cabo abreviar o seu mandato.
Na semana passada, a contragosto, ele se viu forçado a gravar um vídeo sugerindo aos seus devotos que não comparecessem às manifestações do último dia 15 convocadas em defesa do governo e contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.
Àquela altura, o coronavírus já começara a produzir estragos por aqui. O ministro Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, alertara mais de uma vez para o perigo de grandes aglomerações de pessoas em tempos de pandemia. Em tal ambiente, o vírus nada de braçada.
As manifestações murcharam como se viu. Mas o pequeno número de devotos do presidente que passeou pela Esplanada dos Ministérios foi recepcionado pelo próprio Bolsonaro, que tocou em 272 pessoas e se exibiu em gozo diante do Palácio do Planalto.
Mas, como? O presidente que estimulou a manifestação e depois recuou, que voltara dos Estados Unidos na companhia de pessoas que haviam contraído o vírus, era capaz de pôr em risco a vida dos que com ele confraternizavam? Que presidente é esse?
E tudo para preservar a saúde da Economia. Ele diria mais tarde que se a Economia afundasse, o país afundaria. E que seu governo com isso acabaria também afundando. Diria mais: que o vírus só mata velhinhos, e que velhinhos morrem mesmo sem vírus.
Foi uma avalanche de declarações estúpidas jamais feitas por um presidente mentalmente sadio. Enquanto chefes de Estado de outros países falavam em guerra e tomavam providências, Bolsonaro falava em histeria e abdicava de suas funções.
A construção de uma relação de confiança leva tempo. A desconstrução é rápida. Cristal que racha não cola mais. Bolsonaro apostou só na morte dos velhinhos. Resultado: estrepou-se com os velhinhos, com os filhos deles e com os netos deles.
O melhor para o país seria que Bolsonaro fosse posto de quarentena por 120 dias. E que o proibissem em tal período de usar o celular. Deveria ser vigiado. Uma espécie de prisão domiciliar sem o desconforto de ter que usar tornozeleira.