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Coronavírus: na crise, todos crescem (por João Bosco Rabello)

Menos o presidente

Por João Bosco Rabello
Atualizado em 30 jul 2020, 19h02 - Publicado em 4 abr 2020, 11h00

A pesquisa XP Ipespe realizada em março e abril demonstra uma relação de causa e efeito entre a posição do presidente Jair Bolsonaro pelo fim da quarentena e seu declínio pessoal na avaliação da sociedade.

O presidente, acima de tudo, fez uma aposta de antemão perdida por opor ciência à política e desconhecer que o medo da morte é mais forte que especulações leigas.

A derrota da tese do “vamos para a rua” é pessoal, dado que a pesquisa indica apoio ao ministro da Saúde, Luís Henrique Mandetta, aos governos estaduais e ao Legislativo, alvos preferenciais de Bolsonaro por sustentarem o isolamento social radical – a chamada quarentena horizontal. Todos cresceram na crise, inclusive parte do governo. Só o presidente diminuiu.

Os números autorizam a previsão de que o chamado “orçamento de guerra”, em fase conclusiva no Congresso, é a antessala de um ciclo de gestão pactuada do país, com perda de poder pelo Executivo. A letargia que parece ter dominado a equipe econômica, há dois meses patinando na crise, abriu o vácuo para a ação do Legislativo.

Hoje, são 28% os que dizem considerar que o presidente tem atuação boa ou ótima, contra 42% que atribuem avaliação ruim ou péssima – os números são o menor e o maior da série histórica, respectivamente. Luiz Mandetta e o Ministério da Saúde têm 68% de avaliação positiva. Paulo Guedes e o Ministério da Economia, têm 37% positiva e 18% negativa.

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A mudança coincide com uma melhora na imagem do Congresso e de governadores. O Legislativo passou a ser visto como ótimo ou bom por 18% da população, contra 13% na pesquisa anterior. A avaliação negativa caiu de 44% para 32%. Em relação aos governadores, o ótimo/bom passou de 26% para 44%.

Como outro índice da pesquisa mostra que 60% acham que a quarentena deve durar apenas mais um mês, essas avaliações tendem a ser definitivas, ou seja, a perspectiva do fim da crise não apagará os desempenhos considerados negativos.

O roteiro do resgate da economia traçado pelo ministro Paulo Guedes não vale mais para o atual mandato. A economia de guerra se estenderá por mais tempo após o fim da quarentena até que a normalidade inclua a retomada do espaço para uma gestão liberal.

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É nesse contexto que o presidente reage com o anúncio da demissão futura do ministro da Saúde, algo inédito no país. Um aviso prévio baseado na administração correta da crise, pelo menos na visão mundial.

Bolsonaro diz, alto e bom som, que Mandetta é indemissível hoje, mas não amanhã, por ser essencial no enfrentamento da crise. Passada esta, lhe aplicará uma demissão corretiva para aprender a humildade.

Ao confundir subordinação com submissão, o presidente exibe sua dificuldade em reconhecer outra autoridade – ainda que científica -, senão a sua própria.

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Jornalista há 40 anos, iniciou sua carreira no extinto Diário de Notícias (RJ), em 1974. Em 1977, transferiu-se para Brasília. Entre 1984 e 1988, foi repórter e coordenador de Política de O Globo, e, em 1989, repórter especial do Jornal do Brasil. Participou de coberturas históricas, como a eleição e morte de Tancredo Neves e a Assembleia Nacional Constituinte. De 1990 a 2013 dirigiu a sucursal de O Estado de S. Paulo, em Brasília. Recentemente, foi assessor especial de comunicação nos ministérios da Defesa e da Segurança Pública.

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