O fim do carnaval marca o início de uma contagem regressiva para o governo com vistas às entregas que precisará fazer no curso de 2021, o terceiro ano do atual mandato presidencial. Se conseguir um up grade na economia, já será vitorioso.
Não é tarefa fácil, principalmente porque o tempo perdido com enredos secundários impõe uma preliminar que, em algum momento, considerou-se superada: a confiança dos investidores, cuja alta se deu com a aprovação da reforma da previdência.
A expectativa criada com a conclusão da reforma da previdência, como assinala a economista Zeina Latif, foi mais produzida e menos espontânea. Ou seja, produziu-se uma expectativa muito além da realidade, refletida na estimativa de crescimento entre 3 e 3,5% em 2019.
Na prática, a agenda econômica parou, contida pelo fator político, subestimado pela área econômica, com a colaboração do próprio governo enredado em dúvidas e debates improdutivos.
Sem prejuízo das qualidades – e dos avanços – do ministro Paulo Guedes, sua oratória privilegiada seduziu mais do que entregou. A redução do ritmo mostra que a reforma da previdência foi o limite do avanço sem o exercício da política. Ela já alcançara o ponto de não retorno em gestões anteriores.
Em algumas oportunidades, o governo pareceu ter absorvido essa realidade, mas preferiu investir contra o Congresso Nacional, com o propósito provável de enfraquecê-lo, antes de se abrir a negociações inevitáveis, em ano encurtado por eleições municipais.
A cobrança pela execução das emendas impositivas já foi traduzida por chantagem pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, e desperta em parte da população a idéia de um Legislativo insaciável por recursos públicos. A cada objeção do Congresso essa memória será despertada como forma de pressão.
Por isso, tem pouca ou nenhuma importância para o presidente Jair Bolsonaro o polêmico episódio de aval à convocação da população para ir às ruas, por meio de mensagem em grupo pessoal de whatsapp. O objetivo principal, de chamar a atenção para o controle do orçamento pelo Legislativo, foi alcançado e divide opiniões.
A grande questão é que isso não resolve o problema do governo, que é o de resgatar a confiança em uma agenda econômica de inspiração liberal, mas de convicção nem tanta, pelo menos no que sugere o comportamento presidencial. Os olhos, pois, continuam postos em Guedes, a referência que ainda sustenta a esperança do mercado investidor.
João Bosco Rabello é jornalista, editor do site capital Político (capitalpolitico.com)