Foi-se a ilusão. O País solidário, generoso, compassivo, fraternal, caridoso, não existe mais. Se existiu um dia, parte dele morreu. E não tem a ver com a pandemia. O vírus agravou o que já era evidente.
Mais de 57 milhões de brasileiros elegeram Bolsonaro. Bastaria isso para assolar sua reputação. O voto no Capitão deu transparência ao lado cinzento do País que um dia foi festejado por sua desambição e genuína alegria.
Para nossa vergonha, estamos entre os cinco países que mais matam mulheres, aponta o Alto Comissariado das Nações Unidas pra os Direitos Humanos (ACNUDH). Perdemos para El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia em número de casos de assassinato de mulheres.
O brasileiro “bonzinho” mata 48 vezes mais mulheres que o Reino Unido, 24 vezes mais que a Dinamarca e 16 vezes mais que o Japão ou Escócia, se comparado com países desenvolvidos.
Há anos, o País ocupa o 3o. lugar no ranking com maior população carcerária do mundo. Cerca de 800 mil presos em condições sub-humanas. Boazinha, Xuxa Meneghel cutuca a ferida com ponta de faca. Sugere tratar como animais de laboratório os que estão pagando seus pecados – justa ou injustamente. Não está distante da golpista Janaína Paschoal, que preconiza a morte dos velhos para salvar os jovens da Covid.
A pandemia certamente escancarou a face desumana do Brasil. Desrespeito afrontoso às regras sanitárias, a começar por quem se passa por chefe de governo. Irresponsáveis espalharam o vírus, desmantelaram nosso sistema de saúde, ferraram ainda mais nossa economia.
Não faltam exemplos e indicadores dando nitidez ao perfil tóxico do brasileiro. A maioria não gosta de cumprir leis. Atravessa fora da faixa de pedestre, estaciona em lugar proibido – de preferência, obstruindo passagem para cadeirantes. E não teme ser punido ao dirigir alcoolizado. Como se fosse pouco, estamos entre os cinco maiores vendedores de armas de pequeno porte do mundo.
No Índice Global da Paz, elaborado pelo Instituto para a Economia e Paz, da Austrália, o Brasil caiu dez posições em 2020, segundo ano do governo genocida. Entre 163 países, nesses tempos da cólera, estamos em 126.
Não é de hoje. O brasileiro não merece a fama de bonzinho. Em 2016, um comparativo sobre empatia, entre 63 países, pela Universidade de Michigan, o Brasil ficou no fim da fila.
Esse é o semblante do Brasil de hoje. Cazuza não viveu pra ver. Anos 80, quando saíamos de ditadura sanguinária, ele pedia no icônico disco “Ideologia”: “Brasil, mostra sua cara. Quero ver quem paga pra gente ficar assim”. Quase 40 anos depois, o que vemos? Um genocida. E seus asseclas.
PS: Mais do mesmo. O troca troca de ministros não dá alívio ao Brasil que ainda crê em milagres. Queremos vacina.
Mirian Guaraciaba é jornalista