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Bolsonaro usa o filho contra Mourão

Se der certo é porque tudo o mais está errado

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 30 jul 2020, 19h47 - Publicado em 24 abr 2019, 07h00

De duas, uma. O presidente Jair Bolsonaro manda no seu filho Carlos Bolsonaro, mas ele não o obedece. Ou manda e ele obedece.

A hipótese mais provável é a segunda. Porque se não fosse assim, Bolsonaro já teria dito com todas as letras: Carlos não fala por mim.

Está bem que Carlos é um vereador do Rio. Como tem mandato, pode dizer o que quiser. É o caso dos seus irmãos Flávio e Eduardo.

Mas Carlos, Flávio e Eduardo são os filhos do presidente da República e sabem que tal condição reforça o que dizem e fazem.

Somente ontem, em poucas horas no Twitter, Carlos disparou seis tiros contra o vice-presidente Hamilton Mourão.

Jamais teria feito isso se não tivesse o respaldo do pai. Atirou e ficou por isso mesmo, e ficará. Tem sido assim desde o ano passado.

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Carlos pôs na cabeça que Mourão quer derrubar seu pai. E Bolsonaro concorda com ele, embora não o diga.

O filho usa o pai que usa o filho. E quando a barra pesa para o lado de Carlos, o pai sai em sua defesa. Foi o que Bolsonaro fez outra vez.

Sangue é sangue, disse Bolsonaro por meio do seu porta-voz. Por isso não importa que os ataques de Carlos façam Mourão sangrar.

Também não importa que militares da ativa e da reserva corram em defesa de Mourão. Entre o filho e o vice, a escolha já foi feita.

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Bolsonaro tem pelo menos duas grandes dívidas contraídas junto a Carlos e que ele considera impagáveis.

Como Flávio não quis, Carlos foi convencido pelo pai a ser candidato a vereador para impedir que sua mãe se reelegesse. Derrotou-a.

Carlos largou tudo o que fazia para cuidar da campanha do pai à presidência da República. Flávio e Eduardo cuidaram de se reeleger.

Nunca esteve nos planos de Bolsonaro se eleger presidente da República. Nunca acreditou que seria possível.

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Saiu candidato pra ajudar os filhos a se reelegerem. Em seguida iria gozar a vida ao lado da sua nova mulher e da sua única filha.

A facada em Juiz de Fora que quase lhe custou a vida atrapalhou seu plano. Não estava pronto para governar. Não está. Mas, fazer o quê?

Ele simplesmente não sabe o que fazer. Seus ministros, os filhos e o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho lhe dizem o que fazer.

E ele vai tocando as coisas ao seu modo inseguro e atrapalhado. Assim será até o fim do mandato, se conseguir chegar até lá.

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Bolsonaro manda, mas não comanda o governo. Muito menos as circunstâncias que o cercam.

Se mesmo assim der certo foi porque tudo o mais está errado.

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