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Bolsonaro, mais um gesto obsceno e o desejo de mandar na imprensa

Outra quebra de decoro

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 30 jul 2020, 19h09 - Publicado em 16 fev 2020, 08h00
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  • Em sua escalada de agressões à imprensa, sentindo-se autorizado por seus seguidores nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro, ontem, pela manhã, à saída do Palácio da Alvorado, deu mais uma “banana” para os jornalistas que tentavam entrevistá-lo. Foi a segunda em uma semana.

    À noite, de volta ao palácio, avisado de que a TV Globo divulgaria a resposta do governador Rui Costa (PT), da Bahia, ao ataque que Bolsonaro lhe fizera à tarde, o presidente divulgou uma nota e advertiu em seguida: “Ou a TV Globo lê as duas notas ou não lê nenhuma, tá ok.”

    De manhã, Bolsonaro irritou-se com perguntas sobre a redução do espaço da biblioteca do Palácio do Planalto para a construção, ali, de um gabinete destinado à sua mulher, Michelle. À tarde, no Rio, com perguntas sobre as ligações de sua família com o miliciano Adriano da Nóbrega.

    Na ocasião, alegou que Nóbrega, morto na Bahia na semana passada, era “um herói” da Polícia Militar do Rio quando seu filho Flávio, então deputado estadual, o homenageou duas vezes. Disse que, à época, Nóbrega ainda não fora condenado com sentença transitado em julgado.

    Foi quando aproveitou para tentar sair das cordas e desviar o foco das perguntas. Disparou então: “Quem é responsável pela morte do capitão Adriano? A PM da Bahia, do PT. Precisa falar mais alguma coisa?” Da Bahia, o governador replicou horas depois:

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    – O Governo do Estado da Bahia não mantém laços de amizade nem presta homenagens a bandidos nem a procurados pela Justiça. […]. Mas se estes atiram contra pais e mães de família que representam a sociedade, os mesmos têm o direito de salvar suas próprias vidas, mesmo que os marginais mantenham laços de amizade com a Presidência.

    Daí a longa nota expedida por Bolsonaro à noite em resposta ao governador. Parte da dele e do que escrevera Costa no Twitter foi lida no Jornal Nacional. Curiosa a posição de Bolsonaro quanto a Nóbrega se comparada à sua em relação ao ex-presidente Lula.

    Nóbrega, segundo ele, quando homenageado por Flávio, não fora condenado com sentença transitado em julgado. Quer dizer: em definitivo, esgotados todos os recursos. Lula também não foi até hoje. Diz a Constituição brasileira no seu artigo 5º, LVII:

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    “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

    Mas Bolsonaro, em suas declarações sobre Nóbrega, evita criticá-lo diretamente. O oposto do tratamento que dispensa a Lula. O ex-presidente foi acusado de roubar e de deixar que roubassem. Nóbrega, de ser um matador de aluguel e líder de milícia.

    Quanto à repetição do gesto obsceno dirigido a jornalistas, Bolsonaro afronta o decoro a que se obriga quem exerce um cargo público – no seu caso, o mais importante cargo público do país.

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