O presidente Jair Bolsonaro decidiu investir contra o Congresso por causa de uma proposta de sua própria autoria. Em agosto passado, ao despachar para o Congresso o Orçamento de União de 2020, ele reservou R$ 2,5 bilhões para financiar as campanhas dos partidos na próxima eleição municipal. Eleição custa dinheiro.
No final de novembro, ele reduziu para R$ 2 bilhões o valor do financiamento. O Congresso, que a certa altura queria R$ 3,7 bilhões, aprovou o que Bolsonaro sugerira. Desde então, sob a crítica implacável dos seus devotos contrários a qualquer tipo de financiamento, Bolsonaro só tem feito se queixar.
Disse que o Congresso pôs no colo dele uma bomba prestes a estourar (bomba armada por ele). Depois disse que poderá sancionar o fundo de R$ 2 bilhões para não ser alvo de impeachment. Ontem, apoiou uma campanha dos seus devotos para que ninguém vote em candidato que se beneficie do fundo.
Cabe ao presidente da República sancionar ou vetar o que o Congresso aprova. Cabe ao Congresso conformar-se com o veto ou tentar derrubá-lo. Nesse caso, não cabe em hipótese alguma a abertura de um processo de impeachment só porque o presidente usou ou deixou de usar um poder que a Constituição lhe confere.
Como de hábito, quando contraria os bolsonaristas de raiz e começa a apanhar deles, o presidente tira sua responsabilidade da reta e joga a dos outros. É o que faz mais uma vez ao culpar o Congresso por algo que ele mesmo propôs. Bolsonaro manipula os fatos, como se vê. Mas esse é também outro hábito dele.