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Bolsonaro chama Villas Bôas contra a Igreja Católica

A crise anunciada

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 30 jul 2020, 19h28 - Publicado em 3 set 2019, 07h00
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  • Sempre que se via em apuros, o general João Batista de Oliveira Figueiredo, o último presidente da ditadura militar de 64, ameaçava chamar “o Pires”. José Sarney, o primeiro presidente civil depois do fim da ditadura, ameaçava chamar “o Pires” sempre que era fortemente pressionado pelos políticos.

    Foram dois os Pires – Walter, ministro do Exército do governo Figueiredo, e Leônidas, ministro do Exército do governo Sarney. O primeiro chegou a cogitar um golpe para melar a posse de Sarney. O segundo atuou para esfriar a temperatura política e fazer prevalecer a Constituição em vigor à época.

    O Pires de Jair Bolsonaro é o ex-comandante do Exército de Dilma e de Michel Temer, o general Eduardo Villas Bôas, hoje assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional da presidência da República. No ano passado, Villas Boas soltou uma nota advertindo o Supremo Tribunal Federal para o risco de soltar Lula.

    Quando o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, guru da família Bolsonaro, começou a atacar duramente a ala militar do governo, Villas Bôas saiu em socorro dos seus pares e, por tabela, do próprio Bolsonaro. A menos de um mês do Sínodo da Amazônia convocado pelo Papa Francisco, Villas Boas voltou a se manifestar.

    Disse que o encontro dos bispos levará em conta “dados distorcidos” sobre “o que não acontece na Amazônia”. E que o governo se preocupa como tudo isso chegará “à opinião pública internacional” porque será “explorado pelos ambientalistas”. O Sínodo “escapou para questões ambientais e também tem o viés político”, afirmou.

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    O governo fez gestões junto à Igreja para enviar um representante ao Sínodo. O cardeal dom Cláudio Hummes, nomeado pelo Papa relator-geral do Sínodo, respondeu que será vetada a participação de políticos com mandato. “Não virão políticos com mandato, nem militares. Não participarão”, comentou secamente.

    A colisão com a Igreja Católica é a mais nova crise contratada pelo governo Bolsonaro desde que em fevereiro último ele ouviu falar do Sínodo e acionou a Agência Brasileira de Inteligência para espionar padres, bispos e cardeais. A Amazônia ainda não estava em chamas como agora, mas os focos de incêndio cresciam.

    Para Bolsonaro e seus ex-companheiros de farda, o Sínodo faz parte de uma série indigesta de fatos que só contribuem para enfraquecer a imagem do governo no exterior. O presidente da França foi o primeiro a bater o tambor. Depois, o secretário-geral da ONU e, em seguida, ministros de pequenos países europeus.

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    Embora não digam publicamente, as vozes de maior peso nos meios militares por aqui consideram Francisco um Papa de esquerda se comparado com os que o antecederam depois que João XXIII, no final dos anos 60 do século passado, sucedeu a Pio XII e convocou o Concílio Ecumênico Vaticano II.

    Devotos de Bolsonaro nas redes sociais costumam reverberar o pensamento dos chefes militares quando acusam Francisco de ser partidário de Lula livre e, por isso, comunista. Perguntou-se a Bolsonaro no último sábado se o Papa era de esquerda. “Não quero encrenca com a Igreja Católica”, ele se esquivou. Mas terá.

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